*Rangel Alves da Costa
Agora recordei de um livro que muito li na
adolescência: Enterrem meu coração da curva do rio, de Dee Brown. O livro trata
do amor do povo indígena pela sua terra e seus antepassados e sobre o
extermínio voraz perpetrado pelo homem branco no seu avanço rumo ao velho
oeste, deixando em cinzas nações nativas inteiras. É, assim, um canto de apego,
de amor, de profunda afeição. Também um eco de angústia, de medo, de aflição.
Enterrar o coração na curva do rio significa, pois, permanecer na
espiritualidade e na alma da terra, dos antepassados, dos costumes e das
tradições. É não morrer totalmente perante a simbologia cósmica que une passado
e presente num só contexto de vivência: a eternidade, pois ninguém é como se
apresenta senão como aquela primeira raiz, aquela primeira geração. Ao pedir
para enterrar o coração na curva do rio é dizer que o túmulo seja nas entranhas
da própria vida de seu povo, pois o rio tem alma, o rio tem vida, o rio possui
tamanho significado espiritual que transcende a toda existência visível. O rio,
para o povo que o tem como vida e alma, é como a própria terra encharcada da
seiva da existência. Por isso peço que também enterrem meu coração na curva do
rio. Do rio que passa pela minha aldeia. O mesmo rio que segundo Fernando Pessoa
é belo por passar na sua aldeia, e não por ser o maior dos rios.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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