SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Palavra Solta - depois da janela


 *Rangel Alves da Costa


Depois da janela, tanta vida, todo vida depois da janela. Depois da janela, manhãs, dias e noites depois da janela. Depois da janela, a comitiva que passa, a caravana que passa, o tropel que passa, cavaleiro e cavalo, tudo passa depois da janela. Depois da janela e a voz do menino do pirulito, a voz do leiteiro, a voz da verdureira, a voz que passa ligeira, tudo assim depois da janela. Depois da janela o vento e a ventania, a brisa e a tempestade, o vendaval e a aragem, o redemoinho e o bailado poeirento, bem assim depois da janela. Depois da janela o sol, a lua, a sombra e o negrume, tudo depois da janela. Depois da janela um horizonte distante, uma nuvem subindo aos céus, um pôr do sol e uma revoada, sempre depois da janela. Depois da janela a procissão, o canto da beata, o triste cortejo fúnebre, o louco jogando pedra numa inexistente vidraça. Depois da janela o príncipe encantado que vai chegar, a esperança que nunca chega, o tempo, as horas, a vida. Tudo assim depois da janela. Mas eu continuo atrás da janela. E como é triste viver avistando o jardim após a janela e fazer do encanto a lágrima que cai dentro do meu quarto.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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