*Rangel Alves da Costa
Depois da
janela, tanta vida, todo vida depois da janela. Depois da janela, manhãs, dias
e noites depois da janela. Depois da janela, a comitiva que passa, a caravana
que passa, o tropel que passa, cavaleiro e cavalo, tudo passa depois da janela.
Depois da janela e a voz do menino do pirulito, a voz do leiteiro, a voz da
verdureira, a voz que passa ligeira, tudo assim depois da janela. Depois da
janela o vento e a ventania, a brisa e a tempestade, o vendaval e a aragem, o
redemoinho e o bailado poeirento, bem assim depois da janela. Depois da janela
o sol, a lua, a sombra e o negrume, tudo depois da janela. Depois da janela um
horizonte distante, uma nuvem subindo aos céus, um pôr do sol e uma revoada,
sempre depois da janela. Depois da janela a procissão, o canto da beata, o
triste cortejo fúnebre, o louco jogando pedra numa inexistente vidraça. Depois
da janela o príncipe encantado que vai chegar, a esperança que nunca chega, o
tempo, as horas, a vida. Tudo assim depois da janela. Mas eu continuo atrás da
janela. E como é triste viver avistando o jardim após a janela e fazer do
encanto a lágrima que cai dentro do meu quarto.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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