*Rangel Alves da
Costa
Madrugada
de 05 de julho de 1993. O telefone tocou na hora mais inesperada e assustadora.
Do outro lado, com a voz embargada, a amiga Sônia Godoy esforçou-se para dizer
em poucas palavras: Houve um acidente na estrada de Canindé e seu irmão Alcimar
morreu. Ele e Marcinho de Zé de Lídia.
Dois
jovens, dois rapazinhos na bela flor da mocidade. Dois jovens abrindo a porta
da vida, sendo mais velho Alcimar com 21 anos de idade, mas meninos ainda pelo
percurso imaginado que ainda teriam pelo chão sertanejo. Um golpe duríssimo,
doloroso demais, inesquecível, abrindo chagas nos corações familiares que
jamais estarão completamente curadas. Por isso os lenços ainda molhados de Poço
Redondo.
E Poço Redondo
já perdeu muitos de seus filhos ainda jovens demais para partir. Eis sempre o
pensamento humano ante o infortúnio e sempre contestando os chamados de Deus.
Por mais que os destinos já estejam escritos por mãos sagradas, ainda assim
muito difícil aceitar acontecimentos que sempre chegam como punhalada na alma.
E os lenços molhados se encharcam de tristeza e sofrimento.
Jaminho,
meu primo Jamisson Freitas, não está mais entre nós desde 05 de fevereiro de
2011, e eis um adeus angustiante demais apenas por relembrar. Também rapazinho,
menino ainda, ou um jovem esbanjando simpatia, beleza pessoal, alegria e
amizade aonde chegava. Inesquecível o seu jeito bonito de ser, contente demais
com a filhinha Sophia, cheio de planos e sonhos. Mas eis que novamente o caminho
da vida é interrompido cedo demais, num espanto anestésico que ainda nos
dificulta acreditar. Por tais razões que os lenços de Poço Redondo ainda vivem
melancolicamente encharcados.
Os
motivos, as situações, os modos, nada disso releva quando se fala em sofrimento
pela perda. Um adeus forçado, a perda do filho, do irmão, do parente, do amigo,
é o que dói perante o acontecido. A despedida de qualquer pessoa próxima ou
conhecida já motiva indescritível sofrimento, mas se imagine o tamanho da dor
ao ter - de repente revelada diante de si - que se despedir de um jovem no seu
mais belo instante da vida ou mesmo de alguém que cedo demais faz prostrar de
dor a família e todo o sertão. E por isso mesmo os lenços molhados nunca secam
nos varais da memória.
Manoel
Messias, ou Mané Messias de Cordélia, ainda parece sorrir perante sua família e
amigos de seu Poço Redondo. Com seus óculos, seu jeito inconfundível de ser,
sua feição alegre, não haveria como não profundamente comover perante o
acontecido, perante o adeus ainda numa fase florescente na vida. Com seu irmão
Toinho, o eterno Toinho de Cordélia, mesmo numa idade já mais avançada, havia
acontecido o mesmo. E assim porque sempre dilacera ter de se despedir daqueles
que parecem que sempre estarão ao nosso lado.
Certamente
alguns imaginam que aos poucos o tempo vai enxugando os lenços, acalantando os
sofrimentos, até mesmo fazer esquecer os entes queridos e seus adeuses. Ledo
engano. Não há tempo ou idade que faça deslembrar ou diminuir na memória quem
realmente se ama e que, pelos chamados de Deus nos acasos da vida, já não se
fazem presentes nos seios familiares, entre os amigos, na normalidade da
existência. Não há como se esquecer da vida presente em Leto, nosso amigo
Juquinha. A dor de ontem certamente será o mesmo sofrimento toda vez que o
coração ou a memória chamar o seu nome, relembrar sua face amiga entre nós.
E tantos e
tantos amigos, parentes, conhecidos, já partiram assim, na flor da idade, nos
anos de bem viver, em instantes ainda produtivos. Arnon de Dona Hélia, como era
mais conhecido. Hélio e Zélio de Tonho de Ulisses, Elder, Gladston, Arnon Dias
de Adelvan, Zé de Delino. O nome de Zé de Delino, aliás, nem precisaria ser
relembrado pelas pessoas, parentes ou amigos, pois é o próprio Poço Redondo, no
seu chão e seu caminho, que haverá sempre de cultivar sua memória.
Não
precisam dizer que me esqueci de mencionar muitos outros nomes. Sei disso.
Reconheço a falta de menção, mas é que o espaço é curto e os lenços se
encharcam ainda mais. E a memória, as lembranças e as saudades nos chamam a
fazer orações.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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