*Rangel Alves da
Costa
Mesmo os
mais jovens, certamente muitos já ouviram estes refrãos: “Estava à toa na vida,
o meu amor me chamou pra ver a banda passar cantando coisas de amor. A minha
gente sofrida despediu-se da dor pra ver a banda passar cantando coisas de
amor...”. Pois é, estrofes da música “A Banda”, de Chico Buarque, exatamente
retratando a magia da banda musical interiorana e que, toda vez que passa,
consegue tudo alegremente transformar.
E agora,
perante a população de Poço Redondo e todo o sertão sergipano (e mesmo
além-fronteiras), indago: quem já não ouviu e se encantou com a magia ecoada
pela Banda Municipal, que ao passar ou se apresentar sempre teve o dom de
transformar a beleza em verdadeiro fascínio. Quanta magia nos instrumentos,
quanta formosura nas mocinhas e nos rapazes, quanta graça e singeleza nas
vestes, quanta perfeição nos gestos e nas coreografias.
Se no
passado Poço Redondo tinha orgulho de suas praças, mais recentemente passou a se
orgulhar de sua banda. Lembro-me muito bem que meu pai Alcino Alves Costa
brilhava os olhos com mais força, deixando marejar seu contentamento, toda vez
que a banda tocava em alvorada à sua porta. E era apenas uma parte, que se
imagine o agrupamento completo com cerca de cinquenta jovens em perfeita sincronização
de coreografias e acordes?
Como diz a
música de Chico Buarque: todo mundo parava para ver a banda passar. “A moça
triste que vivia calada sorriu. A rosa triste que vivia fechada se abriu. E a
meninada toda se assanhou pra ver a banda passar cantando coisas de amor. O
velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou que ainda era moço pra sair no
terraço e dançou. A moça feia debruçou na janela pensando que a banda tocava pra
ela...”. Contudo, a tristeza da realidade vem agora: “Mas para meu desencanto o
que era doce acabou... E cada qual no seu canto. Em cada canto uma dor...”.
Sim.
Infelizmente eis a realidade da banda musical de Poço Redondo: o que era doce
está em vias de acabar. E cada qual no se canto. Em cada canto será uma
profunda dor. Não só na população que tanto se acostumou a admirar seu orgulho
musical como em cada um dos seus integrantes. A verdade é que todos agora estão
aflitos ante as incertezas, estão entristecidos demais perante os comentários
surgidos dando conta de um mundo de desajustes. Ninguém sabe dizer qual o
destino da banda, se terá continuidade, quais os recursos que a ela serão
destinados. Lamentável que assim aconteça.
Batizada
com o nome de Banda Municipal Sertão Música, numa das gestões de Enoque
Salvador de Melo, um projeto foi aprovado pela Câmara Municipal no sentido de
oferecer uma bolsa de incentivo aos seus integrantes, sendo de dez por cento de
um salário mínimo. Por muito tempo teve três professores, um maestro, um
coreógrafo e um orientador de percussão. Contudo, mesmo ganhando cada vez mais
importância, jamais teve sede própria. E a falta de um espaço próprio sempre
foi sentido pelos integrantes que necessitavam se reunir, ensaiar, programar
apresentações. Tal problema jamais foi resolvido.
Ainda
assim, mesmo com todas as dificuldades, a Banda Municipal deu voos mais altos
que os esperados ante suas condições. A Banda de Poço Redondo ainda é considerada
uma das melhores de Sergipe, alcançando a quarta colocação no primeiro concurso
de bandas que participou. Sendo também filarmônica, faz apresentações em
homenagens, eventos religiosos e festas. E a administração municipal necessita
reconhecer e valorizar ainda mais essa verdadeira flor de cato num mundo de
aridez.
Como
relata a integrante de mais de dez anos, Paula Daiany: “Somos estrelas em
muitas cidades, como referência temos Ribeirópolis, onde somos aguardados e
aplaudidos de pé. E sempre nossa presença é uma honra para nossa cidade e outras
onde nos apresentamos. Aonde vamos é só elogios, e elogios também recebemos nas
emissoras de rádio e nas redes sociais. Por onde passamos, as secretárias
municipais nos enviam vídeos de agradecimentos. Tudo isso aumenta nosso deseja
de permanência e com conquistas cada vez maiores. Enfim, essa Banda cresceu
muito, e queremos continuar crescendo. Mas...”.
Mas o
problema que surge agora diz respeito justamente às indefinições. Surgem
comentários de todos os tipos. Dizem que a grande maioria dos integrantes terá
que sair, dizem que vai ser toda renovada, dizem e dizem. Contudo, muitos
problemas surgem com isso. Não se pode ter a mesma a qualidade numa banda que
praticamente começa do zero. E se começar. Acaso mudanças sejam necessárias,
que estas sejam aos poucos, de modo a não desarmonizar o que já vem sendo
construído desde mais de dez anos. E o mais importante é que não ocorram
ingerências políticas nas mudanças dos integrantes.
Paula
Daiany está corretíssima em suas preocupações. Hoje, aqui mesmo no facebook, um
texto maravilhoso escrito por Nadyne Cavalcante expôs com brilhantismo a
situação. Quanto a mim, lamento profundo profundamente que tudo isso venha
ocorrendo. Tenho os mesmos olhos de meu pai diante da banda: um brilho molhado
de alegria. E temos certeza que Poço Redondo inteiro quer que sua fênix musical
renasça das cinzas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário