*Rangel Alves da
Costa
Não sei
bem por que eu estava ali. Não sei bem por que ela estava ali. Mas de repente,
os dois no mesmo local. Sequer eu a conhecia. Sequer ela me conhecia.
Dia 13 de
novembro. Eu havia esquecido a data, mas hoje ela me recordou. Aliás, ela não
esquece nada desde essa data em diante. Nem eu, que fico agradecendo ao destino
por me guiar àquele encontro.
Era uma
noite de seresta em espaço fechado, no Coqueiral. Nenhuma valsa sequer eu sei
dançar, quanto mais música do cancioneiro mais antigo. Também não bebo mais, de
modo a justificar a minha presença numa daquelas mesas. Mas de repente eu
estava lá.
Cheguei,
entrei, cumprimentei alguns bons amigos e, sempre como faço, fui me afastando
para um canto de pouca gente e sem aglomeração de dançantes. Costumo ficar em
pé somente observando o que se passa ao redor. Sou curioso demais ante o que
está ao redor.
Assim, em
pé, de vez em quando fumando um cigarro, observava a festança sem me ater a
qualquer mesa ou pessoa específica. Até que meu olho avistou ao longe, do outro
lado da pista, uma moça sentada ao lado de uma amiga.
Não sei se
pelo fato de o meu olho ter avistado assim, mas a verdade é que ela se
sobressaía perante todas as mulheres que estavam ali. Não estava bebendo, não dançava,
apenas observava os dançarinos adiante, e de vez em quando conversava algo com
a amiga.
E fiquei
pensando e me indagando: quem será aquela jovem tão bonita ali sentada? Quantos
anos terá, será que é solteira? Mas também me recaia em realidade: Qual a bela
flor que vai olhar para um jardineiro assim como eu, talvez alguém que apenas
esteja sonhando o impossível?
Mas
olhava, olhava, olhava. E a cada olhar era em mim despertado um interesse cada
vez maior. Já não enxergava apenas a moça sentada, mas uma jovem bela e
delicada, porém de beleza indefinida pela distância. Então tive vontade de me
aproximar um pouco mais. E tomei coragem para seguir até lá.
Lentamente,
cortei a pista de dança e cheguei ao outro lado, próximo onde ela estava sentada
com a amiga. A cada passo dado tudo ia se confirmando. Tive vontade de olhá-la
fixamente, mas não o fiz. Eu estava envergonhado, juro. Minha timidez
posicionou-me ao lado para, de vez em quando, olhar de lado.
E a cada
vez que olhava sentia uma sensação diferente. Será Rangel, será que é amor à
primeira vista, eu me perguntava. Para depois intimamente responder: Desejar,
querer, todo mundo pode, o problema é que os jovens vivem para os jovens,
namoram os mais jovens, e o seu tempo já é outro.
Que
aflição danada! Então resolvi oferecer uma cerveja, um refrigerante, qualquer
coisa. A negativa das duas foi como se um fosso se abrisse a meus pés.
Entristeci por dentro e por fora, perdi todo o gosto de estar ali. Mas foi a
primeira vez que olhei de perto seu olhar, que senti a beleza de sua face, que
me encantei pelos seus cabelos. Vi sua beleza, enfim.
Triste,
cabisbaixo, retornei ao mesmo lugar, ao outro lado. Olhei-a novamente, mas
dessa vez somente para me despedir. Deixei a seresta mais cedo do que o
esperado e levando comigo um ser solitário e entristecido. Naquele momento,
junto a ela, nem uma palavra, nem um olhar mais profundo, nenhuma esperança.
Cheguei
sozinho e sozinho retornei. Algum tempo depois, já deitado na minha rede de
dormir e de solidão, eis que me chega uma mensagem via celular. Era ela. Ela
constava como minha amiga no facebook e eu sequer atentara para tal fato. Mas
era ela.
“Lembra-se
de mim?”. Jamais esquecerei tal pergunta. E agora confesso, já passados quase
três meses de amoroso convívio, que só tenho uma resposta: Jamais te
esquecerei. E, como disse o poeta, que o nosso amor não seja imortal, posto que
é chama, mas que seja infinito enquanto dure.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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