*Rangel Alves da Costa
O
falecimento de velhos sertanejos, como tantos outros falecimentos quem vão se
repetindo e afastando de nossa presença e nosso convívio pessoas da mais
pujante raiz, leva-nos a uma triste constatação: o velho caboclo está partindo
sem deixar os mesmos troncos potentes de outrora.
São raízes
que morrem e não deixam troncos. Velhas raízes que se vão pelas idades e que,
mesmo tendo deixado extensa linhagem hereditária, ainda assim não se terá a
certeza de alguma continuidade na bravura daqueles que partem.
Por outras
palavras, as raízes sertanejas estão morrendo sem que no seu lugar estejam
sequer vingando a mesma valentia cabocla, o mesmo caráter, a mesma honradez, a
mesma autenticidade sertaneja. Os que ficam resguardam apenas os sobrenomes.
Com as
despedidas e adeuses, a terra vai ficando empobrecida de seu alimento maior: o
homem e sua história, o homem e seu prestígio familiar e social, o homem e o
seu reconhecimento por tudo aquilo que representou na existência.
O homem
que, mesmo já envelhecido e carcomido pelo tempo, se diferencia em tudo das
gerações mais recentes. Ora, formas de ser e viver que dignificam o meio,
comportamentos que dizem do seu respeito. E esperar o que dos mais jovens,
principalmente quando estes sequer sabem que foi o pai do pai de seu pai ou a
mãe da mãe de sua mãe.
E não
somente isso, pois também o descompromisso com os laços familiares, com o
respeito que deve existir em toda linhagem e igualmente perante os demais. O
que mais se observa são jovens que sequer se orgulham de suas famílias, de seus
pais, de suas raízes primeiras.
Não
significa dizer que a geração de agora não seja digna e virtuosa, e também que
os mais jovens não possam dignificar suas estirpes familiares, mas apenas que a
autenticidade sertaneja vai se perdendo com cada um desses ilustres
conterrâneos que vai partindo.
Assim
aconteceu com a velha Canindé de São Francisco, quando a nova Canindé
praticamente perdeu seu senso hereditário, seu vínculo com as origens
primeiras. E assim também com Poço Redondo e tantos outros municípios fincados
nos sertões sergipanos.
Praticamente
não há mais retratos nas paredes, não existem mais os velhos álbuns com
fotografias amareladas de tempo, não existem mais as velhas relíquias que
diziam muito das pessoas e das próprias famílias. A verdade é que ninguém se
preocupa mais com o passado.
E não se
preocupando com o passado também negligencia o presente, pois vivendo apenas
para os momentos e os instantâneos vulgares ou descompromissados com qualquer
valia de vida. Não há mais nenhuma recordação das antigas lições, não há o
passo perante a sabedoria do avô ou da avó.
E prova maior
está no fato que dificilmente um pai se repete num filho ou uma filha se repete
na mãe. E não se repete porque os tempos modernos não deixam. Ou acompanha os
modismos e as imposições sociais ou simplesmente são olhados pelos olhos da
ignorância e da incompreensão.
Ademais,
antigamente as pessoas eram vistas como famílias, assim como os Marques, os
Feitosa, os Lucas, os Cirilo, os Alves Costa, os Santana, os Rodrigues Rosa, os
Cardoso de Sousa, os Sarmento, os Félix, e tantos outros, quando hoje são
vistas apenas como pessoas, pelos nomes individualizados.
E para
muitos tanto faz ter no sangue esta ou aquela geração, pertencer a este ou
aquele tronco familiar. O resultado disso, infelizmente, será um Poço Redondo
ou qualquer outra povoação apenas de presente, de triste e solitário presente.
Sem qualquer prazer e honra com as raízes primeiras. E também sem gerar no seu
seio a comprovada honradez do passado.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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