*Rangel Alves da Costa
Sou sertanejo. Sou matuto, caboclo, da terra,
do chão. E que orgulho tanto ser desse sertão. Se não fosse a seca, se não
fosse o sol o dia inteiro e noite adentro, não havia lugar melhor pra se viver.
Mas ainda assim é bom demais. A gente inventa uma paz, inventa uma felicidade,
inventa uma lua grande, inventa muita coisa boa de alegrar coração. E enquanto
a chuva não vem a gente ora, a gente reza, a gente se ajoelha aos pés do altar,
a gente levanta as mãos em direção aos céus e pede a Deus proteção contra todo
sofrimento. E igual aos braços abertos do mandacaru, a gente pede chuva, pede
trovoada, pede semente na terra e colheita qualquer. Enquanto a chuva não vem a
gente é assim, só sertanejo. E sertanejo que afasta na fé a aflição, que
dissipa a dor na esperança, que alimenta o amanhã com a certeza das graças de
algum dia. Enquanto a chuva não vem a gente é assim. É um tanto cruz, um tanto
vela, um tanto pé de altar, um tanto imagem sacra. É filho e pai nesse mundo de
benção e desvalia. A gente é tudo, e tudo por ser tão sertão. A gente é assim.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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