*Rangel Alves da Costa
Tudo o
vento leva. O vento levou Scarlett O’Hara e Rhett Butler, Ashley e Melanie, e
todos os outros. Até Tara o vento levou. Quando o livro de Margaret Mitchell
foi levado pelo vento e as portas do cinema foram fechadas pela ventania, também
me vi desprovido de sonhos no meio do tempo, em meio aos sopros esvoaçantes. A
verdade é que o vento levou minha infância, levou minha caixa de lápis de cor,
levou meu caderno de caligrafia, levou meu caderno de desenhar, levou minha
bola de gude e meu papagaio. Até meu pai e minha mãe o vento levou. O vento
levou-me a meninice, a adolescência, a juventude. Aquele primeiro beijo o vento
levou, aquele primeiro abraço o vento levou, aquela primeira namoradinha o
vento levou. E o que me restou? Restou-me o percurso da vida a seguir, a
estrada a caminhar, qualquer realizar. Mas a cada dia o tempo me leva um pouco,
me leva a força e o viço, me leva o sorriso e a alegria. E tudo faz para também
levar minha esperança. Já não tenho lenços, pois todos levados ao vento. Já não
tenho acenos, pois todos levados ao vento. Já não tenho adeuses, pois todos
esvoaçados no vento. De braços abertos, então me coloco esperando o vento.
Quero tudo de volta. Quero amar, quero beijar, quero abraçar, quero ser feliz,
quero sorrir. Mas eis que o vento não chega quando assim estou de braços
abertos. Só chega a ventania. E tenho de segurar nas mãos de Deus para não ser
levado.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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