SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Palavra Solta – escrevo para não ser lido


*Rangel Alves da Costa


Que ninguém leia os meus textos. Tudo bem. Também não escrevo pra ninguém. Como apenas escrevo e sequer leio para corrigir, talvez ninguém leia mesmo. Escrevo, assim, para não ser lido. Com efeito, ninguém tem a obrigação de lançar um olhar sobre pieguices, maluquices, até idiotices. Absolutamente ninguém está obrigado a ler e reler melancolias, aflições, sofrimentos derramados em letras chorosas. Ora, o sentimentalismo de minha escrita é derramada em lágrimas, em saudades, em tormentos da alma e do coração. Ao invés de declamar o mundo real, vívido, pulsante, procuro flores, jardins, colibris, borboletas, auroras, entardeceres, céus estrelados, noturnos adocicados demais. Quem haveria de se sentir satisfeito em ler sobre manhãs, horizontes, montanhas e orações? Absolutamente ninguém. Que procurem, então, escritas válidas, que realmente atraíam olhares e sentimentos. Ou talvez notícias de violências, de barbaridades e terrorismos. Muita gente gosta de ler sobre corrupção, lamaçal, coisas putrefatas na política e nos poderes. Talvez seja mais válido que a minha escrita. Escrevo pra ninguém, escrevo para não ser lido. E também o mundo de hoje já não sabe ou quer ler goiabas caídas do pé ao amanhecer.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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