*Rangel Alves da Costa
Toda vez que a seca se espalha e se prolonga
pelos sertões, então se observa o quanto o homem da terra possui apego, afeição
e estima, verdadeiro e desmedido amor, ao que tem ou lhe resta como rebanho de
cria. Já com mais de ano de estiagem, quando a pastagem já está esturricada e
sem alimento algum para o boi, a vaca, o cavalo ou o jumentinho, e o sertanejo
se vê perante a difícil situação de alimentá-los, então seu apego ao que tem se
mostra em toda feição. Geralmente pobre, com poucos recursos de sobrevivência,
ainda assim passa a comprar palma, capim, o que for necessário à mínima
alimentação. Chega ao extremo de fazer feira numa semana e na seguinte nada
comprar para alimentar a família, pois o pouco dinheiro daquela semana será
revertido em comida para o bicho. E assim pelos sertões inteiros. Quando as
secas se prolongam por anos, a soma dos gastos já terá sido muito maior que o
valor das três vaquinhas magricelas restantes. Quer dizer, acaso venda o que
lhe resta de rebanho, não cobrirá quase nada do muito que já gastou. Mas ainda
assim sofre, padece, chora, lamenta, mas não vende sua vaquinha de jeito
nenhum. E assim faz pelo amor, pelo afeto, pela estima que tem por aquilo que
possui a feição de verdadeira família.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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