SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 16 de junho de 2017

Palavra Solta – a velha quenga fechando o tacho


*Rangel Alves da Costa


Para os anais da história quando a velha quenga resolveu se despedir da função, decidiu dar adeus aos ofícios da carne e fechar de vez o tacho. Já estava deveras envelhecidas demais aos chamados do prazer no famoso cabaré. Uma velha de não mais de quarenta anos. Quarenta anos, porém, que na vida da noite no meretrício, na putaria, em meio a bebidas e drogas, em meio a sonos perdidos e pernas abertas, significam setenta ou mais. Ora, uma quenga em costumeiro exercício de função já está envelhecida demais aos quarenta anos, já está lanhada de tempo e marcada demais por dentro e por fora. Ademais, os clientes já haviam sumido, já não ganhava tostão para sobreviver. As putinhas novas, bem feitas, charmosas e bonitinhas, de chupetas doces e fiofós da moda, deixavam as putas mais velhas como que desprezadas de tudo. E então, numa noite de rum e cigarro, sentada à mesa de solidão, a velha quenga resolveu fechar o tacho dali em diante. Já embriagada, pediu para desligar a vitrola e quase gritou para espanto de todos: “De hoje em diante o meu xibiu se despede do cabaré e da putaria!”. Em seguida, um tanto lacrimosa, anunciou: “Como despedida, vou trepar de graça, e com quantos homens aparecerem, até o amanhecer”. Mas nenhum homem apareceu. Todos preferiam pagar às mais novinhas. E assim, na tristeza e no abandono, o velho tacho da quenga velha foi fechado.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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