*Rangel Alves da Costa
Para os anais da história quando a velha
quenga resolveu se despedir da função, decidiu dar adeus aos ofícios da carne e
fechar de vez o tacho. Já estava deveras envelhecidas demais aos chamados do
prazer no famoso cabaré. Uma velha de não mais de quarenta anos. Quarenta anos,
porém, que na vida da noite no meretrício, na putaria, em meio a bebidas e
drogas, em meio a sonos perdidos e pernas abertas, significam setenta ou mais.
Ora, uma quenga em costumeiro exercício de função já está envelhecida demais aos
quarenta anos, já está lanhada de tempo e marcada demais por dentro e por fora.
Ademais, os clientes já haviam sumido, já não ganhava tostão para sobreviver.
As putinhas novas, bem feitas, charmosas e bonitinhas, de chupetas doces e
fiofós da moda, deixavam as putas mais velhas como que desprezadas de tudo. E
então, numa noite de rum e cigarro, sentada à mesa de solidão, a velha quenga
resolveu fechar o tacho dali em diante. Já embriagada, pediu para desligar a
vitrola e quase gritou para espanto de todos: “De hoje em diante o meu xibiu se
despede do cabaré e da putaria!”. Em seguida, um tanto lacrimosa, anunciou: “Como
despedida, vou trepar de graça, e com quantos homens aparecerem, até o amanhecer”.
Mas nenhum homem apareceu. Todos preferiam pagar às mais novinhas. E assim, na tristeza
e no abandono, o velho tacho da quenga velha foi fechado.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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