*Rangel Alves da Costa
Só nós dois. Haverá um tempo de ser assim: só
nós dois. Muitas vezes já estivemos sozinhos, até mesmo distantes de tudo, mas
nunca somente nós dois do modo que precisamos estar. Só nós dois no sentido de
que toda voz seja de um para o outro, de modo que todo toque seja de um no
outro, de forma que tudo que houver envolva somente nós dois. Nós dois em nós
mesmos, um no outro, juntos, apertados, sumidos dentro de um corpo, que sempre
será um só corpo de nós dois. Só nós dois para que ninguém ouça o segredo ou
imagine o balbucio da voz. Só nós dois para que nem a brisa nem o vento tragam
outros sussurros ao nosso silêncio. Só nós dois, cujos passos, cujos abraços,
cujos sons, cujos gemidos, imperceptivelmente existam sem decifração. Só nós
dois, sem que nenhum nem outro digam adeus ou faça sentir saudades aquele que
ficou. Pois não haverá partida, mas apenas encontro e reencontro de um no
outro, de dois em um. De nós dois.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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