*Rangel Alves da Costa
Há uma distância imensa entre a velhice e a
infância. Ao menos na idade, no tempo, no percurso de vida. Contudo, avistar um
velho é igualmente avistar uma criança. O velho é o mesmo menino. O velho ainda
repousa naquela idade de peraltices, traquinagens e brincadeiras de
virar-mundo. Não que o velho chegue a um estágio de vida onde suas ações são as
mesmas de crianças ou necessitando dos mesmos cuidados que uma criança de colo.
Não. E sim porque o velho ainda brinca, e delira ao recordar das traquinagens
da meninice, sorri com as peraltices feitas, de repente se vê pulando cercado
alheio para afanar goiaba madura caída do pé. E sim porque também sonha, também
deseja e, igualmente ao menino, com a dúvida da realização. E sim porque sente
vontade de comer doce, de comer maçã do amor, de se lambuzar com gulodice. E de
vez em quanto chega uma filha reclamando que flagrou o nonagenário pai comendo
doce escondido. É ou não uma criança?
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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