*Rangel Alves da Costa
Dói que a vida seja assim, é tão ruim que
tudo seja assim, mas parece que não há como fugir de tudo ser tão Eclesiastes.
E por ser tão Eclesiastes, a vida perde sua motivação, as esperanças diminuem,
as alegrias são temidas e até rejeitadas. Ora, se depois do sorriso vem a tristeza,
se depois do encanto vem a lágrima, se depois do prazer vem o sofrimento, se
depois da paz vem a guerra, se depois do sim vem o não, então não há motivo
algum para a felicidade. Fruir o que, esperar o que, se tudo vem e se desfaz
para novamente ter a outra face? Tudo se torna tão volúvel, tão passageiro, que
sequer há escolha de como se deseja estar no momento. Daí que não é sem razão
que muitos temem estar muito alegres, felizes, radiantes. E temem exatamente
pelo que diz o Eclesiastes: Há um tempo para tudo, tempo de plantar e de
colher, tempo de nascer e de morrer, de amanhecer e de anoitecer, tempo de
viver e de padecer. Então a pessoa sempre teme o que possa chegar ao instante
seguinte, após o sorriso. Daí ser um mundo de dúvida, de negativa, de não
desejar que os fatos inevitáveis aconteçam. Há situações, contudo, que parecem
perdurar somente o lado ruim. Quando o povo brasileiro, na sua grande maioria,
já teve tempo de fartura para que depois disso se prolongue em eternidade o
sofrimento?
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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