*Rangel Alves da Costa
Palavras existem que somente podem ser ditas
ou no silêncio do pensamento ou através da escrita. Não há como expressar
determinados sentimentos por meio da voz. Os ódios saem retorcidos, as
angústias saem mal-entendidas, as solidões saem com ruídos, as alegrias não
expressam sua plenitude. Por isso que a pessoa de vez em quando conversa
sozinha, como forma intuitiva de apenas jogar pelo ar o que na boca se prende,
mas ainda assim sem alcançar os objetivos da coesão compreensiva. As palavras
ditas sozinhas também saem tortas, libertas demais, atabalhoadas, turvas e
curvas, retalhadas, sem objetivo de compreensão. Mas quero dizer uma coisa. Não
raro a pessoa assassina outra em pensamento. Não raro a pessoa aprisiona outra
em pensamento. Não raro a pessoa tira a roupa da outra em pensamento. Não raro
a pessoa ama, beija na boca, acaricia, leva pra cama, tira a roupa e faz sexo,
mas apenas no pensamento. Também a situação em que a pessoa chama a outra de
filha da puta, de safada, de imprestável, mas apenas através da ideia. Ou
talvez querendo dizer que a ama tanto, que a deseja tanto, que não vive sem ela.
Tudo isso poderia ser dito de viva voz, mas a pessoa assim não faz por que
palavras e acontecimento existem que só têm validade na ideia, na memória, no
pensamento.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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