*Rangel Alves da Costa
Enquanto a cidade dorme, então ressurge outra
cidade no espírito, na vida e na alma da cidade. Principalmente nas cidades
pequenas das regiões interioranas, a cidade que nasce enquanto a outra dorme é
tão bela como comovente. Sem o barulho das motos e automóveis, sem as buzinas e
os xingamentos, sem os brados e as grosserias humanas, sem os gritos e os
alvoroços, tudo mais parece o alto silencioso de uma colina ou a planura
silenciosa de uma paisagem distante. Portas e janelas fechadas, ruas nuas,
sombras amareladas pelas luzes dos postes, folhagens de ventania que tomam seu
destino sem nada que lhes atrapalhe o caminho. A matriz emoldurada pela
semiescuridão noturna, bancos de praças vazios, passeios sonolentos, um leito
que se estende sem que ninguém ou nada atormente. Paisagem de prece, de oração,
de palavras silenciosas. Levantar na madrugada e caminhar por ruas assim é
conhecer a nudez mais bela da cidade. Ouvir sua voz, sentir sua pulsação,
compartilhar de sua solidão. Até que o tempo vá passando e comecem a surgir as
primeiras vozes, os primeiros passos, os despertares da luta. O vaqueiro, o
leiteiro, a lavadeira, o agricultor, os caminhos, as estradas. E na cor da
aurora já a vida com outra feição, a cidade acordada e o despertar do gritante
cotidiano.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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