*Rangel Alves da Costa
Passo pelo centro da capital sergipana e
avisto pessoas envelhecidas servindo de anúncios ambulantes: compro ouro. Eis
os dizeres nas placas que carregam à frente e atrás dos corpos. São idosos
alquebrados, entristecidos, de olhares e feições tão vazios quanto os seus
bolsos. E ali como anúncio ambulante, em situação de verdadeira humilhação, em
troca de um tostão qualquer. Nada mais que isso. Dizem apenas que compram ouro,
anunciam apenas que compram ouro, mas qual riqueza eles possuem, qual o quilate
dourado que possuem? Nenhum. Aqueles dizeres deitados pelos ombros e encobrindo
os corpos são como as antíteses da vida e da existência. É a pobreza comprando
ouro, é a desvalia comprando ouro, é a miséria comprando ouro. Depois que
retiram de si aqueles anúncios são apenas uns velhos, uns empobrecidos, uns
sofredores que se submetem a tais humilhações para acrescer um ovo ao pão, um
açúcar ao café, um pedaço de carne ao feijão. Se tiver. Mas compram ouro. Mas a
realidade brasileira os torna compradores de ouro. E tudo saído da ferrugem da
alma e da maresia da existência. Lamentável que assim aconteça. Mas assim
acontece.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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