*Rangel Alves da Costa
Relembro muito bem. Toda vez que eu passava
por aquela rua, diante daquela janela eu sempre avistava Dona Filó sentadinha
do lado de dentro. Era uma janela, apenas, mas tão significativa que a cada
passo eu ia levando no pensamento aquela imagem daquela velha senhora. O que tanto
Dona Filó faz ali todos os dias? O que pensa, será que conversa sozinha, será
que espera alguém chegar ou passar? Será que ali é o seu cantinho de lágrimas e
de saudades, será que é ali que reabre sempre o seu livro de recordações na
memória? Não sei. Muito já tive vontade de parar um instante perante a janela e
conversar com aquela senhora. Mas no dia que estava decidido a fazer isso, já
não encontrei a janela aberta. Nem no dia seguinte nem depois. Logo imaginei o
que poderia ter acontecido. Deixei lá no umbral da janela fechada um ramo de
flores e depois chorei. Olhei pelas frestas da janela para melhor recordar e
depois chorei. Suas sombras, seu vulto e sua imagem viva, estavam lá, embalados
pela cadeira de balanço e nos silêncios incompreensíveis da vida.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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