*Rangel Alves da Costa
Rosaflor é mais conhecido que banco de praça,
que placa de esquina, que caqueiro de janela. Homossexual assumido desde o
tempo que ser gay se revestia de mistério e ocultação, jamais escondeu a
ninguém suas preferências sexuais. Também não havia como ocultar nada, pois
quase uma mulher, conforme ele mesmo dizia em alto e bom som. De sapato alto,
bolsinha, um avermelhamento na boca, numa requebrança que só. Trabalhava no
Cabaré Putiá no quase tudo de sua lida. Servia bebida, limpava o salão e
quartos, gritava e desmaiava, apartava brigas de bêbados e de prostitutas, mas
também servindo como ombro amigo e até psicólogo perante os queixumes tantos.
Era calmo, pacífico, sem grandes afetações por onde passava. Cordial com todos,
só perdia as estribeiras quando era chamado de viado. “Tudo, menos viado”.
Dizia. E ajuntava: “Esse nome ridículo não serve para uma quase mulher como
euzinha”. Mas se repetiam e novamente diziam viado, viado, então Rosaflor
soltava a franga de vez: “Quer que eu diga quem é viado mesmo, quer? Quer que
eu dê nome aos bois quer? E logo se verá que muito macho não passa de frutinha,
que muito casado não passa de bicha louca. Quer? Pois brinque comigo e digo
quem de sua família não pode ver um zíper de calça que corre em cima. E não
brinque não, viu que digo até a moita que você estava amoitado e com quem.
Viado é você, seu enrustido, seu boiola...”. Chegava a tal extremo que não raro
desmaiava. Ou quase. Começava com chilique, ameaçava cair de vez, mas logo em
seguida saia se requebrando. E numa pose de passarela. Uma verdadeira flor,
porém de plástico enfeitado, Rosaflor.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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