CAMINHOS DO VENTO
Rangel Alves da Costa*
Por si só, as dúvidas, as incertezas e as inseguranças são prenúncios de fragilidade. Ninguém que pretenda planejar, construir, alçar voos maiores na vida, pode ter por característica quaisquer destes aspectos. Ora, a força de vontade não caminha olhando para uma possível derrota que esteja ao lado ou vindo atrás. Tornar-se contente, preparar a mente e seguir em frente...
A adolescência, juventude e mocidade são terrenos férteis onde as dúvidas, as incertezas e as inseguranças se instalam e parecem não pretender sair mais. Sem vigilância nem punição, sem um olhar atento para dizer sobre o certo e o errado, passam a comandar o destino dos menos experientes e, com isto, aprontam o palco e fazem a festa para o arrependimento posterior.
Maria, Joana, Clara ou Ismália, qualquer uma pode estar nessa fase da vida. Nesse estágio é como se a vida fosse uma casa de portas abertas. A dona tem as chaves nas mãos, mas não sabe quando nem como fechar as portas; as janelas vivem entreabertas, desprotegidas; o jardim sempre de primavera possui beleza por conta própria porque jamais é cuidado; as paredes parecem solitárias e tristes porque nenhum motivo de alegria é colocado; os aposentos vivem ao largo do abandono, como se ali não existisse moradora.
O quarto, enfim, que deveria ser o ambiente mais acolhedor da existência é a feição da própria experiência que se está vivenciando: tristeza e desilusão, restos espalhados de uma vida que simplesmente ainda não está organizada. A moradora desse quarto e dessa casa, pois, é assim, alguém que está na adolescência, juventude ou mocidade e que é tão frágil quanto a folha de outono quando a ventania chega.
Essa faixa etária na vida de Maria, Joana, Clara ou Ismália é verdadeiramente como folha ao prazer do vento. Não aquela folha verdejante, sólida, incrustada com toda seiva e vida no seu galho, mas simplesmente a folha de outono. Folhas de outono vão perdendo a cor e a força, perdem o viço e a mocidade, entristecem de repente e nem lágrimas têm mais para chorar, vão se fragilizando cada vez mais e num instante começam a murchar, acinzentadas, ocres, embranquecidas, sem cores, sem vida.
E basta que chegue o entardecer e a brisa chamar o vento e este começar a soprar, que as folhas dão o último suspiro e, feito um suicídio, se deixam levar por aí, pelos ares, sem rumo, sem destino, caindo em qualquer descampado, em qualquer jardim, em qualquer lugar onde ninguém olhará mais para a beleza que era até pouco tempo atrás, mas apenas como o tapete entristecido que vai gemendo e virando pó assim que passos apressados passam caminhando para encontrar a vida.
Os outros têm a vida e querem seguir em frente, mas as folhas não. Estas não são mais nada, pois um certo outono chegou e elas eram apenas folhas, e nada mais que isso. Bem assim ocorrerá com Maria, Joana, Clara ou Ismália se não despertarem para as outras estações da vida. E quantas manhãs bonitas, quantos sóis, quanta esperança, tanta alegria e tanto viver em feições contentes que querem abraçar o mundo porque sabe a dimensão daquilo que pretendem alcançar!
Antes que se firmem pelos caminhos da vida, que caminhem sem tanto temer os seus labirintos, Maria, Joana, Clara ou Ismália infelizmente ainda serão como caminhos do vento. Impossível caminhar pelos caminhos do vento, impossível sequer imaginar como são os caminhos do vento, por onde sopra quando vai passando entristecido ou onde vai destruir quando passa enfurecido. E essa fase da vida também é assim: caminhos de vento que pode levar e destruir a bela flor que ainda não se fez completamente mulher.
Poeta e cronista
e-meil: rangel_adv1@hotmail.com
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