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domingo, 26 de setembro de 2010

CRÔNICA DE TRÊS POESIAS (Crônica)

CRÔNICA DE TRÊS POESIAS

Rangel Alves da Costa*


Em 1994, contrariando todas as expectativas de um estado que jamais deu a mínima valorização a qualquer tipo de produção cultural – muito menos literatura -, consegui publicar, através da Sociedade Editorial de Sergipe/Pesquise, o livro de poesias "Todo Inverso". Criei uma capa bonita, com uma folha branca sendo rasgada, deixando ao fundo o espaço preto. Era o inverso na capa e na poesia.
Conseguir apoio para publicação, lembro bem, foi uma verdade via-crucis. Ora, eu já publicava muitos artigos e crônicas nos jornais impressos, tinha uma posição atuante no meio acadêmico, fazendo parte do Centro Acadêmico Sílvio Romero do Curso de Direito da UFS, participando como candidato a vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes da instituição.
Conhecia inúmeros jornalistas, intelectuais e artistas sergipanos. Contudo, estas pessoas conheciam meu trabalho e faziam boas críticas, mas não podiam ajudar diante da mesma falta de apoio que sentiam para os seus próprios trabalhos. O que fazer, então? Na cara de pau, deixei de pedir água e fui diretamente à fonte.
De tanto insistir, um dia pude entregar os originais do livro a dois conceituados e importantes intelectuais sergipanos e atualmente membros da Academia Sergipana de Letras, Luiz Antonio Barreto e Luiz Eduardo Costa. Aquele atualmente o mais festejado historiador sergipano e este dono da Rádio Xingó FM e ouvidor-geral do Estado. Daí em diante ficou tudo mais fácil e não demorou muito para o lançamento.
Na dedicatória deixei um enigma que muito me ajudaria na vida romântica: "Quem sempre amei tem o nome que não ouso mencioná-lo mais que o coração. Este livro é para ela". O problema era saber quem eu sempre amei. Ora, eu sempre dizia que era a menina que estava comigo no momento. E ficou assim, até hoje.
Dediquei ainda o livro a um irmão e um amigo recentemente falecidos, Marcial e Marcinho, bem como aos professores do curso de Direito Silvério Fontes e Eduardo Matos, ao hoje ministro do STF Carlos Ayres de Britto, e ao atual candidato a uma vaga de ministro no STJ Carlos Aberto Menezes.
Das setenta poesias que constam do livro, transcrevo aleatoriamente três. Apenas transcrevo, pois sou incapaz de julgar qual a minha prole mais ou menos bonita.

Chuva no mar
eu vi
olhos no mar
chorar
noite chegar
não ter
lenço aberto
na mão
que enxugue
o mar
e o coração.

Esta outra que diz:

Quando penso na morte
redescubro e persigo
uma fronteira precisa
quando penso na vida
cansa-me a incerteza
da certeza dividida
se penso em mim
não sei qual lado
dessa fronteira é preferida.

Ou ainda esta:

Singrei a distância azul
do mar imenso nos teus olhos
eu que possessivo me encontrei
avancei longe demais
e horizontes que não tinha naveguei
perdi-me em querer ser dono
do mundo teu que encontrei
mas ontem fez-se a tempestade
e tu choraste
e no teu rosto lentamente naufraguei.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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