Rangel Alves da
Costa*
No domingo
passado, seguindo debaixo de uma fornalha sertaneja já antes das oito da manhã,
não demorou muito e cheguei à praça que noutro dia se mostrava tão bela. A
pracinha do Bairro São José era verdadeiramente encantadora até pouco tempo
atrás. Aos poucos foi sendo destruída pelos vandalismos e pela omissão e
negligência do poder público e agora restam somente alguns equipamentos que não
demorarão muito a ser destroçados.
Contudo, o
encanto continua o mesmo pela igreja que logo se avista numa de suas laterais.
Ao contrário da praça que foi sendo rapidamente destruída, a Igreja do São José
parece destinada a se embelezar cada vez mais. Não faz muito tempo que andei
por lá e o templo católico era de uma singeleza de manjedoura. Agora parece
mais ampla, mais ventilada, mais adornada e principalmente mais cativante.
Talvez seja a arquitetura de espaço aberto que a torna ainda mais acolhedora.
Que bela
igreja é a do Bairro São José. E que belíssima homilia eu tive o prazer de
ouvir naquela manhã de batizados e palavras santas. Como sempre acontece nas
manhãs dominicais, o templo estava repleto de fiéis de todas as idades. Mas não
sei, contudo, se todos sentiram a força e a profundida das palavras ecoadas na
voz do Padre Mário. Sempre ele, sempre Padre Mário e seu poder de transformar
uma simples homilia para um povo sertanejo em lição cravada na pedra, em marca
de fogo forjada na madeira do sentimento.
Esperança!
Sim, Esperança, eis o tema escolhido para aquela manhã e para aquele povo que a
todo instante vive sua estrada, mesmo que a tudo sinta somente como um costume
de fé sertaneja. Mas Padre Mário foi além, foi adiante dessa sensação de que o
melhor mais tarde acontecerá, para definir a esperança como a própria vida do
ser humano. Foi, pois, buscar na sua significação, a sua razão e o seu
significado na vida de cada um.
Ao iniciar
suas palavras, Padre Mário foi logo afirmando algo que a muitos soaria como
negação de uma verdade, pois neste sentido afirmou: Enganam-se aqueles que
imaginam que a esperança é a última que morre. A esperança nunca morre, é
imorredoura. A esperança nunca deve morrer, pois imortal, perene,
necessariamente contínua em cada um. E aquele que dela se desatar estará fadado
à tristeza, à dor, à morte.
A
esperança não é a última que morre nem deverá morrer em nenhum momento no ser
humano. O próprio conceito de esperança impõe essa necessidade de tê-la na vida
humana. Assim porque esperança é espera, é desejo, é busca, é fé. Esperança é
sentimento que impulsiona o homem a realizar, a buscar o melhor para si e para
todos. E ninguém nada conseguirá se não mantiver acesa no coração a sua chama,
pois toda conquista nasce de uma busca e toda procura tem sua razão de ser, e
esta nada mais é que a esperança.
Aquele que
não tem esperança vive o medo, vive sem amor, vive às sombras das aflições e
dos sofrimentos. E assim porque somente com esperança há encorajamento à vida,
há satisfação em realizar, há sentido em cada ação. Gelado é o coração
desesperançado, morto é o sentimento que perde sua razão de sentir. Triste do
homem que não deseje dias melhores, que não tenha necessidade de vencer os
obstáculos e as tribulações, que diga que tanto faz como tanto fez. Este homem,
este desesperançado, sequer pode ter Deus no coração.
Deus é
caminho e esperança, é a ponte entre o desejo e a possibilidade de realização.
Aquele que tem fé possui esperança e, por isso mesmo, sempre leva consigo a
certeza que será ouvido e concedido. E aquele sem fé, que não crê, que finge
desconhecer os poderes sagrados, qual esperança pode levar consigo? Nenhuma. E
qual o sentido da vida de uma pessoa assim, qual sua razão de viver, como
poderá existir se tanto faz a própria vida? Falta-lhe a esperança.
Daí que a
esperança deve ser o alimento primordial do ser humano. Alimento contínuo,
persistente, resistente. Uma força sempre presente toda vez que a pessoa
imagina ou sabe que vai vencer, diz que vai vencer, reafirma que será vencedor.
Age assim porque tem confiança, porque tem esperança, porque sabe que lá do
alto sua fé será recompensada.
Foi neste
sentido - e logicamente com outras palavras, muito mais pujantes e fervorosas -
que o Padre Mário pregou naquela manhã de domingo. E mais uma lição: ele ali,
sentado na sua cadeira de rodas, ensinando aos caminhantes as grandezas da
esperança. Eis a vida, a vida.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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