SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Palavra Solta: ossada de bicho na desolação da caatinga


Rangel Alves da Costa*


Em época de seca braba, como a que agora ocorre pelos sertões nordestinos, a caatinga acaba se transformando em verdadeiro cemitério para bois, vacas, bezerros, jumentos, cavalos, jegues e outras espécies típicas no criatório interiorano. A paisagem em si já é de causar sofrimento e dor. A vegetação aberta, rala, disforme, se resume a catingueiras desfolhadas, magras, ossudas, ladeadas por cactáceas sem viço e sem carne, ressecando a cada dia que passa sem pingo d’água cair. Rente ao chão apenas folhagens mortas, troncos caídos, tufos de mato sem vida. E lá de cima a chama do sol descendo voraz para devorar tudo ao redor. E devora mesmo, acaba com tudo, pois nem mesmo o mandacaru - a planta símbolo do sertão - é avistado imponente, mas numa tristeza danada e definhando até o pontudo espinho. Mas quem mais sofre são os bichos, os animais sertanejos. Sem água nos tanques, barragens e fontes, acabam esvaindo em berros e mugidos agonizantes. Sem comida no mato, vez que tudo ressecado pelo sol, acabam morrendo aos poucos. E depois de não mais poder se manter em pé, procuram um pé de pau para esperar um milagre. Deitados para morrer, de repente os urubus vão surgindo para arrancar olhos, a pele, os restos. E por isso mesmo tantas carcaças esbranquiçadas pelos campos devastados de um sertão faminto e sedento. E agonizante debaixo do sol.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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