SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Palavra Solta: noites


Rangel Alves da Costa*


Não em todas as noites, mas em algumas o inimaginável acontece. Noites existem em que os céus se abrem, as tempestades desabam, as tormentas irrompem. Noites existem em que os fantasmas aparecem, os grilhões perambulam nos escondidos, o desconhecido toma assento e voz. Noites existem em que a lua cheia não clareia, as estrelas não brilham, os vaga-lumes se escondem, apenas a noite vagueia. Noites existem em que o silêncio vai soltando gritos, a brisa se faz vendaval, a paz se torna em vexame. Noites existem em que não há sono nem prece, não há chá nem remédio, não há nada que faça dormir. Noites existem em que o nada bate à porta, o telhado quer desabar, a janela é sacudida. Noites existem em que a hora não passa, a noite não segue, nada traz a madrugada e o amanhecer. Noites existem em que os balbucios tomam os ouvidos, as lamúrias tomam conta de tudo, as lamentações se espalham sem voz. Noites existem quer são de lenços, de lágrimas, de dores, de angústias e sofrimentos. E, tantas vezes, sem maiores explicações. Não pela saudade, não pela enfermidade, não pela solidão, não pela insônia, mas por algo totalmente desconhecido. Ou conhecido demais. Mas que ninguém reconhece suas motivações. Pois apenas escuridão.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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