Rangel Alves da Costa*
Tia Veremunda era solteirona, já no caritó,
como se dizia por lá. Sempre desconsolada pelo estado doloroso de solteirice,
só uma coisa gostava mais de fazer do que pensar em homem: perfumar-se toda,
dos pés à cabeça, e durante o dia inteiro. E assim para depois se debruçar na
janela e ficar sonhando com algum olhar masculino em sua direção. Mesmo na
solidão das quatro paredes o perfume tomava os espaços da solidão. Imaginava-se
sempre preparada para a chegada de algum desejado visitante. Daí que sua
penteadeira era uma verdadeira perfumaria, num junção imensa de cremes, batons,
perfumes e outros cosméticos para falsear ou iludir embelezamento num ser já
sem viço pela idade. Mas tia Veremunda tinha suas predileções perfumáticas. Não
era qualquer frasco que entrava no seu quarto e era aberto para sua água
escorrer sobre as faces e o corpo inteiro. Tinha de ser o que chamava água de
flores, e nesta incluída a colônia e a lavanda. Por isso frascos e mais frascos
de Água de Flores Silvestres, Alfazema Suissa e Colônia Aromática D’Amour. E
depois os suspiros, as vontades, os desejos. Coitada da tia Veremunda, que
mesmo tão cheirosa e perfumada morreu como nasceu, virgem e esperançosa. E
também sofredora por falta de um dengo e um cafuné. Por falta de homem.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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