SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Palavra Solta: a seca e o sofrimento do bicho


Rangel Alves da Costa*


Além da seca, da terra esturricada e do fundo do tanque na lama rachada, o sertão ainda convive com um problema que se agrava mais a cada dia: a devastação. Antigamente se dizia que o latifúndio era imprestável, era um exagero de terra para um dono só. Contudo, era no latifúndio que a vegetação nativa reinava, que a mataria se mostrava imponente, que o gado pastava solto e com alimento. Havia bicho de toda sorte, desde onça a tamanduá. Mas depois que os sem-terra invadiram e tomaram conta de tudo, o que se tem agora é um sertão esquelético, desértico, feio, abrasador, desde a terra às alturas. A primeira coisa que fizeram foi derrubar toda mata nativa, dizimar tudo mesmo. E depois nem replantaram nem plantaram nada. Por consequência, sumiu o bicho, sumiu o arvoredo, sumiu a sombra, sumiu a fonte de ar fresco que se espalhava debaixo das grandes árvores. E quem mais sofreu com isso foi o bicho, a vaca, o boi, o cavalo, o jegue, o bode, que não tem onde descansar ou se refrescar quando o sol desce mais forte. As pastagens nuas não dão alimento, as árvores derrubadas não permitem sombras, e então os bichos ficam vagando de canto a outro sem que consigam encontrar um pé de um umbuzeiro ou qualquer outro árvore graúda para um descanso no compasso da vida difícil. E sofrendo vão debaixo do sol, e morrendo vão sem um último leito sombreado, apenas a dor por riba da terra quente.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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