Rangel Alves da Costa*
De vez em quando caminho pela margem do rio e
fico observando o caminho das águas. Leito azul, leito esverdeado, leito lento
e manso, despontando na curva e seguindo adiante. O espelho d’água é tão
singelo que sequer permita imaginar quantos mistérios e quantas forças existem
lá embaixo. Mesmo mansas, mesmo tão calmas e pacíficas, as profundezas das
águas sempre são perigosas. Ali uma história de dores e sofrimentos, de vidas
perdidas, de restos de embarcações, do inimaginável numa rápida visão. Mas o
rio vai passando solene, bonito, cheio, largo, encantador. Arremesso uma
pedrinha no seu leito e logo se abre uma flor. Sim, uma flor d’água. Com o
toque da pedra, a água reage com um leve transbordamento. E ali surge uma bela
flor. E de vez em quando arremesso três, quatro, cinco pedrinhas de uma só vez,
e de repente um pequeno jardim em meio ao rio. Aquelas flores d’água simbolizam
muito para mim. Surgem tão rapidamente e desparecem também tão rapidamente que
imagino ali a própria vida. A vida também flores d’água. Belas flores que
surgem adiante, que fazem parte de nossas manhãs, mas que de repente nada mais
resta naquele jardim. Ou naquele rio. Um rio que apenas passa e leva minha flor
no seu destino além.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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