Rangel Alves da Costa*
Em nós, dentro de nós, há bichos. E bichos
ferozes, famintos, sedentos, perigosos demais. Cremos viver na pacificidade, na
mansidão, na demasiada brandura, mas de repente o monstro surge. De onde ele
vem? Ora, do íntimo, do interior humano, pois dentro do homem há sempre uma
selva medonha, labirintos cruéis, tentáculos aterradores. Nada de lobisomem, de
mula-sem-cabeça, de fogo-corredor, de fera do outro mundo, de aberração
animalesca, mas simplesmente de um criatório pronto a abrir suas porteiras em
busca da próxima presa. Assim porque o homem, como na versão de O Médico e o
Monstro, mostra-se dúbio a cada instante. É ele e é o outro. É o que se mostra
e o que se esconde. Só que o bicho, o monstro ou a aberração, tem sempre o
poder de se sobrepor a tudo, principalmente ao próprio homem, pois domina seus
instintos, suas ações e suas vontades. Daí mostrar-se feroz, perigoso,
aniquilador. Daí não ser confiável. Ora, ele não consegue domar-se a si mesmo e
muito menos se o ataque se volta a outro. De repente e a língua afiada, as
garras na palavra, as garras no punho, as garras na ação. E qualquer um como
vítima, bastando que o instante seja propício - ou não - ao surgimento do
bicho. E ele sempre sai de forma oculta, revestido na pessoa que se presumia
afável e cordial. Então o bote, a ferida, a dor. E as estradas da vida sempre
ensanguentadas por essas feridas que nos rodeiam por todo lugar. E que somos
nós mesmos.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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