Rangel Alves da Costa*
Ontem, domingo, após as dez da manhã eu já
estava pelas estradas sertanejas, caminhando sobre a areia quente e debaixo de
um sol sem igual. Um calor abrasador, o suor pingando, a boca pedindo água. E
eu seguindo adiante. Olhava para os lados da estrada e avistava somente a seca
grande, desmedida, aterradora. A secura que vem tomando do sertão está de tal
modo que as paisagens parecem pintadas de uma só cor: cinza. E cinza na
caatinga, na planta rasteira, nos descampados, onde o olho possa avistar. A
mataria quebradiça, frágil, fina, dobrada a cada gesto. De tom ainda verdoso
somente nas cactáceas, na palma, no mandacaru, no xiquexique, na jurubeba, no
facheiro, mas ainda assim tudo ressequido, magro, espinhento, ossudo. E quando
a planta símbolo do sertão começa a se enfear e a perder o seu viço, então a
coisa tá de lascar mesmo. Tristeza igual nos bichos que avistei. Não avistei
uma só vaca ou garrote que não estivesse na pele e no osso, quase uma carcaça andante.
Então fiquei imaginando minha caminhada debaixo daquele sol escaldante e por
cima daquela terra abrasada e comparei à situação do bicho. O homem caminha por
um instante, reclama, contesta, diz o que sente. E o bicho, ali dia e noite,
por anos e anos, ou até somente aquela seca? Apenas sofrendo, mugindo,
berrando, caindo, calando, morrendo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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