Rangel Alves da Costa*
A verdadeira galinha de capoeira é criada
solta, ciscando pela malhada e fundo de quintal. Alimenta-se do milho jogado,
de restos de comida, do que o seu bico encontrar. É arisca, corredora, difícil
de ser alcançada. Às cinco da tarde já está em busca do poleiro e também antes
das cinco da manhã já estará se alvoroçando em correria. Seus ovos são sem
igual para acompanhar o cuscuz, a macaxeira, a batata ou qualquer outra coisa
da mesa matuta. Contudo, nada igual à própria galinha dentro de uma panela, bem
temperada, deixando que óleo saia de sua própria gordura. Dá um trabalho danado
correr atrás e pegar a penosa, igual trabalho dá puxar no pescoço e tirar as
penas na água fervente. Não menos trabalhoso é cortar sua carne rija,
endurecida pelo alimento natural que consumiu. Mas depois é só colocar na
panela com o tomate, o pimentão, a cebola, o alho, o tempero, o colorau e o
sal, e deixar que o fogo (fogão a lenha sempre dá um gosto mais primoroso)
cuide de fazer o resto. Por ser uma carne macia após a fervura, não demora
muito para o caldo grosso borbulhar. O tal caldo vai formando um óleo de bom
proveito quando misturado fervente à farinha para um pirão. Depois de
preparada, colocada sobre a mesa e saboreada como relíquia, não sem antes
molhar a goela com uma aguardente, não há quem não deseje repetir a iguaria. E
depois se estender numa rede de varanda e sonhar com as delícias da vida. Estas
são poucas, mas ainda existem. Galinha de capoeira bem preparada é uma destas.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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