SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 5 de dezembro de 2015

Palavra Solta: no velho mosteiro


Rangel Alves da Costa*


De vez em quando me vêm à mente aqueles ambientes sombrios dos mosteiros do filme Em Nome da Rosa. Não do enredo sádico e pecaminoso, mas das edificações religiosas em si. Aqueles mosteiros antigos, imensos, com corredores e labirintos, claustros e escondidos, bibliotecas silenciosas, com tudo à sombra, na semiescuridão, numa ambientação assustadora. Mas também apaixonante. E assim pelas divagações que fazem despertar. Então fico imaginando um dia adentrar naqueles portões, caminhar por aqueles labirintos, acender uma lamparina para avistar adiante. E permanecer mil anos em silêncio profundo, alimentado da prece, da fé, do absoluto devotamento. E permanecer cem mil anos lentamente caminhando por aqueles jardins de flores entristecidas e borboletas sem cor, mirando as coisas antigas, as estátuas velhas, as fontes sedentas, os canteiros cantos. E permanecer nem sei quantos anos em meio aos manuscritos da biblioteca, lendo e relendo os livros proibidos, as confissões proibidas, tudo proibido. E permanecer uma eternidade em reflexão, em meditação, em encontro com a verdade através do pensamento e do silêncio. Caminhar descalço, deitar-me ao chão, beber da fonte, alimentar-me do pão dos tempos. E depois abrir os porões para retornar ao mundo. Mas já não serei eu aquele que caminha com o meu corpo. Apenas a sabedoria ou qualquer outra coisa.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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