Rangel Alves da Costa*
De vez em quando me vêm à mente aqueles
ambientes sombrios dos mosteiros do filme Em Nome da Rosa. Não do enredo sádico
e pecaminoso, mas das edificações religiosas em si. Aqueles mosteiros antigos,
imensos, com corredores e labirintos, claustros e escondidos, bibliotecas
silenciosas, com tudo à sombra, na semiescuridão, numa ambientação assustadora.
Mas também apaixonante. E assim pelas divagações que fazem despertar. Então
fico imaginando um dia adentrar naqueles portões, caminhar por aqueles
labirintos, acender uma lamparina para avistar adiante. E permanecer mil anos
em silêncio profundo, alimentado da prece, da fé, do absoluto devotamento. E
permanecer cem mil anos lentamente caminhando por aqueles jardins de flores
entristecidas e borboletas sem cor, mirando as coisas antigas, as estátuas
velhas, as fontes sedentas, os canteiros cantos. E permanecer nem sei quantos
anos em meio aos manuscritos da biblioteca, lendo e relendo os livros
proibidos, as confissões proibidas, tudo proibido. E permanecer uma eternidade
em reflexão, em meditação, em encontro com a verdade através do pensamento e do
silêncio. Caminhar descalço, deitar-me ao chão, beber da fonte, alimentar-me do
pão dos tempos. E depois abrir os porões para retornar ao mundo. Mas já não
serei eu aquele que caminha com o meu corpo. Apenas a sabedoria ou qualquer
outra coisa.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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