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sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Palavra Solta: uma lágrima de Natal


Rangel Alves da Costa*


Por mais que me esforce, sempre cai uma lágrima no Natal. Uma, mais, muitas. Há uma fonte, um rio, um mar, um oceano, que sempre irrompe no Natal. Ora, tenho sentimentos, penso, reflito, sofro. Ora, não sou tão insensível que também não sofra as dores do mundo, que também não padeça das angústias do mundo, que também não lastime as desvalias da vida. Fingir não adianta. Tudo está tão claro, tão explícito, tão covardemente ali ou acolá. No Natal passado, bem me recordo das felicitações, dos abraços, das preces, das promessas, das esperanças. E o que aconteceu? Comumente, como uma prática tão própria do homem, o terror, a violência, o sangue jorrando, vidas perdidas, gritos de horror. E lágrimas, lágrimas, lágrimas. E se olho ao lado ainda vejo o menino perambulando pelas ruas, dormindo embaixo de marquises, cheirando cola, se viciando ainda quase no útero da vida. Se olho ao lado avisto a pobreza ossuda, faminta, de mão estendida, numa submissão sem fim. Se olho ao lado, enxergo a desumanidade, a arrogância, a brutalidade, o exacerbamento em tudo. Uma covardia sem fim. Se olho ao lado, avisto a juventude sem norte, sem rumo, ao sopro dos modismos, das drogas e permissividades mundanas. E sei da solidão de tantos neste período natalino, e sei do sofrimento de tantos nesta época, e sei das dores que se alastram nas enfermidades nos escurecidos dos quartos esquecidos. E sei de tudo aquilo que muitos conhecem, avistam, mas não desejam enxergar. Sei de tudo, até que sou humano. E por isso mesmo não posso conter essa lágrima de Natal, esse rio do ano inteiro, esse mar da vida inteira.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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