Rangel Alves da Costa*
Por mais que me esforce, sempre cai uma
lágrima no Natal. Uma, mais, muitas. Há uma fonte, um rio, um mar, um oceano,
que sempre irrompe no Natal. Ora, tenho sentimentos, penso, reflito, sofro.
Ora, não sou tão insensível que também não sofra as dores do mundo, que também
não padeça das angústias do mundo, que também não lastime as desvalias da vida.
Fingir não adianta. Tudo está tão claro, tão explícito, tão covardemente ali ou
acolá. No Natal passado, bem me recordo das felicitações, dos abraços, das
preces, das promessas, das esperanças. E o que aconteceu? Comumente, como uma
prática tão própria do homem, o terror, a violência, o sangue jorrando, vidas
perdidas, gritos de horror. E lágrimas, lágrimas, lágrimas. E se olho ao lado
ainda vejo o menino perambulando pelas ruas, dormindo embaixo de marquises,
cheirando cola, se viciando ainda quase no útero da vida. Se olho ao lado
avisto a pobreza ossuda, faminta, de mão estendida, numa submissão sem fim. Se
olho ao lado, enxergo a desumanidade, a arrogância, a brutalidade, o
exacerbamento em tudo. Uma covardia sem fim. Se olho ao lado, avisto a
juventude sem norte, sem rumo, ao sopro dos modismos, das drogas e permissividades
mundanas. E sei da solidão de tantos neste período natalino, e sei do
sofrimento de tantos nesta época, e sei das dores que se alastram nas enfermidades
nos escurecidos dos quartos esquecidos. E sei de tudo aquilo que muitos
conhecem, avistam, mas não desejam enxergar. Sei de tudo, até que sou humano. E
por isso mesmo não posso conter essa lágrima de Natal, esse rio do ano inteiro,
esse mar da vida inteira.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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