SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

SEMPRE ACONTECE DE UM NOVO AMANHECER


Rangel Alves da Costa*


Mesmo as lágrimas, as dores e os sofrimentos, nada consegue impedir que as sombras da noite se esvaiam para o surgimento de um novo dia.
Porque sempre acontece de um novo amanhecer...
A vida é contínua, a existência também. Mesmo não podendo usufruir de todo o percurso, ao homem não cabe se entregar ao desalento pelo seu grão de passagem.
Porque sempre acontece de um novo amanhecer...
Tudo se afeiçoa a um pêndulo, a uma gangorra, a um varal exposto à voraz ventania. Mas é preciso saber suportar as adversidades com a certeza de que o sorriso ressurgirá.
Porque sempre acontece de um novo amanhecer...
Um amor perdido, um amor desfeito, uma desilusão amorosa, uma tristeza, uma saudade grande, um coração desalentado, tudo dói demais. Mas também tudo passageiro.
Porque sempre acontece de um novo amanhecer...
Lágrimas pelos que partiram, adeuses inesperados a quem amamos, sentimentos de perda sem fim, nada mais que uma provação na vida. E para o fortalecimento espiritual.
Porque sempre acontece de um novo amanhecer...
Sim, a conquista sonhada não veio ainda, o plano não pôde ser concretizado, as promessas deixaram de ser cumpridas. Mas tudo tem o seu tempo certo para acontecer.
Porque sempre acontece de um novo amanhecer...
A idade que passa, o espelho que não mais sorri, a feição jovial que já mostra marcas indesejadas, o enfrentamento daquilo que não se quer ter. Mas há a dádiva da existência.
Porque sempre acontece de um novo amanhecer...
Viver não é difícil, não é sofrimento, não é privação nem castigo. Viver é sentir, amar e realizar. Mostrar a si mesmo que é capaz de vencer as barreiras e semear flores e sonhos.
Porque sempre acontece de um novo amanhecer...
Sim, a vida não está sendo fácil. O passado ainda provoca marcas profundas, dolorosas, angustiantes. Mas na vida que segue não se deve fazer renascer o que atormenta.
Porque sempre acontece de um novo amanhecer...
As janelas não foram feitas para a escuridão. As portas não foram feitas para deixar a casa em penumbra. Então abra a janela, abra a porta, deixe o sol entrar e a vida acontecer.
Porque sempre acontece de um novo amanhecer...
A riqueza e a pobreza não são motivos nem para o júbilo nem para o entristecimento. O vil metal vale muito menos que uma cuia sagrada cheia de bênçãos da humildade.
Porque sempre acontece de um novo amanhecer...
O sertão está seco, esturricado, tantas vezes faminto, tantas vezes sedento. Há um menino nu e outro de pés no chão. Mas Deus nada retira sem prover a vida de felicidade.
Porque sempre acontece de um novo amanhecer...
Há uma tristeza no olhar, há uma tristeza na face, há uma tristeza no passo. Apenas o reflexo de um instante, pois a vida num Eclesiastes de conquistas após as dificuldades.
Porque sempre há um novo amanhecer...
Drummond certa feita escreveu: “Vamos, não chores... A infância está perdida. A mocidade está perdida. Mas a vida não se perdeu...”. Tudo passa, mas o coração continua.
Porque sempre há um novo amanhecer...
Hoje caneco de estanho e amanhã taça dourada. Hoje água em moringa e amanhã jarra na geladeira. Hoje tripa com farinha e amanhã a fartura sobre a mesa. A vida, a vida.
Porque há sempre um novo amanhecer...
Não me conformo com nada. Vou atrás do perdido e o transformo em conquista. Porque aprendi lutar quando todos já se entregavam à escravidão. E daí toda a esperança.
E porque há sempre um novo amanhecer...
Feliz 2016!


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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