*Rangel Alves da Costa
Hoje não se vive mais uma paixão verdadeira, daquelas
realmente apaixonadas. Paixão de seresta ao luar, paixão de serenata à janela,
paixão de bilhetinho deixando ao umbral, paixão de promessas aos santos e aos
pés da moça. Paixão de riscar o nome em tronco de pau, de mandar recado pela
vizinha, de comprar o presente de feira mais bonito e ofertar, através dos
outros, à amada. Paixão até de pé de balcão, de rum, vodca, uísque, cerveja,
casca de pau, o que houver na prateleira. Paixão que sempre chama outra dose e
de vez em quanto uma ébria cantoria. E na vitrola o bolero desenfreado e
apaixonado. Waldick Soriano, Vicente Celestino, Miltinho, Cláudia Barroso, Noite
Ilustrada, Diana e tantos outros do velho cancioneiro cheirando a paixão, a dor
de cotovelo, a flor de esperança e desesperança. “Quem eu quero não me quer,
quem me quer mandei embora...”. “Oh meu amado, por que brigamos...”.
“Cinderela, menina moça coração a palpitar...”. “Se o meu passado foi lama,
hoje quem me difama viveu na lama também...”. “Garçom, amigo, apague a luz da
minha mesa, eu não quero que ela note em mim tanta tristeza...”. “Basta! O
castigo que vens dando esta pouco a pouco me matando. Canto, de ti só oiço o
contracanto. No entanto queria ver, justo seria conhecer quem vivo a amar e
adorar...”. E o coração apaixonado em bolero e lágrimas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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