SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 17 de setembro de 2010

É TUDO VERDADE... (Crônica)

É TUDO VERDADE...

Rangel Alves da Costa*


Por mais que desejemos fazer parte da parte boa do mundo; por mais que queiramos ser amigos, solidários, ajudar, nos alegrar ou entristecer com o outro, mesmo assim não somos nada do que queremos ser, e simplesmente porque a ingratidão daquele a quem a gente estende a mão faz-nos sentir como abjetos, estorvos, tiranos. E por que o mundo é tão assim?
Por mais que acordemos prontos para o sorriso e queiramos sorrir mesmo passando por estradas de espinhos, ainda assim a dor se fará presente a todo instante como se tivéssemos feito tudo de ruim, negado a própria existência e desacreditado naquilo que temos de acreditar. Nessa sorte inexistente, em parecer que não somos e não existimos, nunca é difícil que nos seja negado até um sorriso ou a visão de algo que seja belo à nossa frente. Às coisas se escondem à nossa passagem. Por que será que a vida é assim?
Acreditamos no mundo, nas pessoas que vivem nesse mundo e em tudo que forma a vida e produz a existência. Mas aqueles que acabamos de servir nos viram as costas, nos desconhecem, nos relegam ao plano da inexistência simplesmente porque não temos mais para servir na medida que eles querem. Demos tudo, não nos restou mais nada, não temos mais nada a oferecer, e por isso mesmo somos tão ruins. E por que as pessoas são assim?
Dentro de casa, no seio da própria família, naqueles que temos como sangue do próprio sangue, de repente o que se mostra à nossa frente são verdadeiros inimigos. Apenas somos, não pedimos para ser, e ainda assim nos olham como estranhos que armam armadilhas e vozes que a qualquer instante podem ser ouvidas diante de um erro que for cometido. Somos ruins porque não somos iguais, e não somos iguais porque somos diferentes e não aceitamos caminhar pelo erro quando a verdade não está difícil de ser observada. Por que quase todos são assim?
Os que já são inimigos porque são inimigos de todos, nestes nem sempre há inimizade de verdade. Pois a distância evita que o mal seja cometido e a boca possa ferir através de palavras. Mas estes não são de todos maus, porque são inimigos deles próprios e nos veem assim apenas para preservar seus jeitos doentios de pontuar no mundo. Destes é mais fácil fugir porque nem sempre estão por perto, pois muito pior são aqueles que nos cercam como amigos e só pensam em nos ver derrotados. São ou não são assim?
Às vezes queremos fugir do mundo, caminhar sem rumo, ir pra qualquer lugar somente para sair de onde estamos. Os vidros perfurantes aos nossos pés doem demais, os pregos que nos encontram em todo lugar não nos deixa saída, a lâmina parece afiada demais na nossa pele, este fogo crepita até nos nossos olhos, a pele não suportaria nem mais uma labareda dessas tantas que não nos deixa ter paz. Tudo é lâmina, é corte, é sangue, é dor, é grito. Onde estão os amigos, onde estão aqueles que remediamos ontem, onde estão aqueles que curamos ontem as feridas? E quanto mais sangramos, mais gritamos de dor, mais o mundo ouve e se alegra porque chegou nosso dia de expiarmos pelos erros que não cometemos. Por que tudo é assim?
E chega o sofrimento, a solidão, o abandono, a angústia, a desesperança, tudo chega, e tudo vem de uma só vez, passando por cima de nós sem ao menos perguntar onde erramos. Mas isso ainda é pouco porque nossa lágrima não tem nenhum valor, nosso gemido, nosso sofrer, nosso olhar triste, nosso medo, nada disso tem valor algum. Ninguém nos pergunta a hora muito menos como estamos passando porque nada disso é necessário. Perguntar como vai seria um favor grande demais àqueles que não existem. Por que as coisas são assim?
Às vezes é melhor calar diante de tudo. Calar para não falar demais, para não sofrer ainda mais e não pecar ainda mais. Mas só uma última pergunta: Deus, meu Deus, por que nos abandonaste?




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Toninho disse...

Poxa Rangel senti uma profunda desilusão, quero crer que seja apenas e muito bem elaborada uma inspiração de exercicio,que os bons poetas podem e devem fazer.Caso contrario amigo desejo que a alma se acalme e tente entender que a vida é mesmo assim. Tem uma musica do VanderLee que se chama Lá onde Deus possa me ouvir, que retrata bem esta situação.Enfim tenho que parebenizar sempre por esta fina cronica de comportamento.Meu abraço e bom fim de semana da paz e na luz.