Rangel Alves da
Costa*
Se o ser
humano é guiado pelos sentimentos, logicamente que apenas a insanidade o levará
a caminhos outros que não os do coração. Há gente que teima, que sempre reluta
em aceitar as palavras, conselhos e lições ouvidas de dentro, mas depois do
erro tende a reconhecer que todo o seu eu possui um comando muito além do
impulso, do passo, do olhar e do corpo enquanto mero adorno.
É que o
coração não apenas pulsa, bate e reage perante as situações de vida, mas age, e
principalmente, norteando as escolhas que devem ser feitas. E daí a certeza que
nada frutifica quando de encontro ao coração. Sem os bons sentimentos, sem o
contentamento da alma, nada vai além de mera ilusão ou desatino. Será preciso,
pois, não imaginar que as ações não possuam profundos reflexos no coração, nos
sentimentos, no bem-estar de vida.
Também
correta a afirmação no sentido de que jamais se deve deixar de ouvir a voz do
coração. É que a pessoa pode se enganar, mas o coração não. É que a pessoa pode
querer iludir a si mesma, mas o coração logo reage com sua verdade. E a verdade
do coração sempre se expressa na junção entre a escolha feita e os frutos
prazerosos dessa escolha.
Não são raras
as situações onde os arrependimentos submergem as pessoas. As consequências das
más escolhas não são esquecidas por desejo próprio, mas somente quando os erros
são reconhecidos e há prestação de contas ao coração. E também a promessa de
não reincidir no mesmo desacerto. Passando pelo purgatório da consciência,
imagina-se que a pessoa renasça no reconhecimento antecipado dos melhores
caminhos, das estradas mais sensatas, dos labirintos onde não deva passar.
Mas não é
tarefa fácil a pessoa ser humilde consiga mesma. Não é tarefa fácil que a
pessoa se reconheça, se compreenda, dialogue com suas possibilidades. Sempre se
incorre no erro de se achar além do bem e do mal. Ledo engano: não há estrada
onde somente flores perfumem a caminhada, não há desejo escuso onde um pecado
não esteja oculto, não há certeza onde a dúvida não possa repentinamente
surgir. Então surge o problema da não aceitação das fragilidades humanas, de
sua propensão ao erro, mas nada que não possa ser resolvido pelas cautelas que
intimamente se impõem.
Até
difícil de compreender que assim aconteça, mas a verdade é que muitas pessoas
existem que são como verdadeiras inimigas de si mesmas. Não há anjo de guarda
que consiga modificar seus instintos contraditórios perante a normalidade da
vida. Os exemplos afloram, tudo se mostra ao olhar, tudo parece dizer que não
faça assim, mas é mesmo que nada. Arrisca em tudo, sempre age em
desconformidade, pois na irracionalidade seu instinto visível. E depois, depois
vai chorar, reclamar de tudo, jogar toda a culpa na vida, no mundo e nos
outros. Mas jamais reconhece sua imperfeição.
As pessoas
nem sempre dão valor ou importância, mas a existência não deixa de ser como uma
bula ou uma receita. E com ensinamentos práticos, realizáveis a cada instante e
em cada situação. E possui nomes também conhecidos por todos: prudência,
sensibilidade, cuidado, racionalidade, cautela, comedimento, espera. Porém sempre respeitando o coração. Sem ouvir
sua voz, sem sentir o seu sentimento, sem se colocar no seu lugar, nenhuma
escolha será acertada.
As
escolhas do coração se assemelham a conselho de pai, de mãe, de avô, de avó, de
bom e sincero amigo. As escolhas do coração nunca levam ao perigo, ao medo, à
dúvida. As escolhas do coração não constroem castelos de areia ou tornam o ser
num mundo de ilusões. As escolhas do coração são no sentido da conquista, da
vitória, do alcance do melhor desejado. As escolhas do coração sempre possuem
consequências como a paz, a felicidade, o sorriso, a alegria, o contentamento.
E o agradecimento pela conquista.
Com
relação ao amor, apenas se diga quantos lenços já foram molhados, quantas
mágoas já foram sentidas, quantas desilusões já foram amargadas. Ou então se
diga da canção amorosa que envolve o beijo ou o abraço, ou até a saudade quando
na distância. Tudo dependerá da escolha feita, ou do modo de se fazer a
escolha. A partir do coração ou do desejo forjado.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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