Rangel Alves da Costa*
Todo menino gosta de passarinho, e se é
menino sertanejo ainda mais. Mas hoje está difícil demais até de gostar, eis
que passarinho é coisa quase inexistente pelos sertões nordestinos. Noutros
tempos, nos idos onde havia mata, árvores grandes, imensas copas floradas e
exuberância da natureza, por todo lugar se avistava o seu voo ou seu mavioso
canto. Rolinha fogo-pagô, coleirinho, sabiá, cabeça, azulão, curió, canário e
muitas outras espécies, alegravam os corações da meninada matuta. Não possuíam
viveiros, mas uma ou outra gaiola. Saíam logo cedinho de arapuca à mão e seguia
em direção à mataria, em busca de galhagens das catingueiras e outras árvores,
onde colocavam sua pequena gaiola de aprisionar passarinho. Sabiam, contudo,
que apenas a arapuca armada não era garantia alguma de que um cabeça chegasse
ali e caísse na armadilha. Havia uma solução para o problema: tomava emprestado
um passarinho cantador e o levavam na gaiola. Esta era estendida no galho e
quanto mais cantava mais chamava outros passarinhos. E ao se aproximarem caíam
na arapuca. Depois, já na boca da noite, era só recolher a gaiola e a arapuca e
verificar se algum desavisado havia sido aprisionado. Mas só interessava
passarinho de canto bonito. Os outros eram soltos ali mesmo. Mas não era tarefa
fácil obter um cantador, de bela penugem, famoso na região. Por isso mesmo que
tanto insistiam em ir atrás daquele que acordasse a família já trinando pelos
arredores. Preso na gaiola, mas cantando sua sina.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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