Rangel Alves da Costa*
O mandacaru, cacto símbolo maior do sertão,
carrega em si outras simbologias verdadeiramente maravilhosas. Simboliza a
permanência, a força, a esperança, a tenacidade, o suportar as agruras sem
esmorecer ou definhar de vez. Simboliza a beleza, a majestade sertaneja, a
demonstração da pujança na sua flor. Sim, pois mandacaru tem flor e não há flor
mais bela que a do mandacaru. Faça seca ou chuvarada e lá estará, no alto ou
nas pontas de suas mãos, a formação de um amarelo avermelhado apaixonante.
Simboliza ainda a terra seca, a sequidão de gente e de bicho, a paisagem matuta
no seu sofrimento. Quando tudo morre, quando tudo padece, quando tudo
desesperança de vez, lá ele estará em meio ao tempo na sua altivez inabalável.
E de braços abertos. E neste gesto a simbologia maior: a fé sertaneja. O
mandacaru, sempre de braços abertos, levantados em direção aos espaços,
erguidos rumo aos céus, representa a fé maior de todo o sertão. E dizem que num
gesto de prece, de clamor, de louvação, implorando que as chuvas logo caiam
para diminuir o sofrimento de seu meio e de seu povo. Numa prece que sempre
começa assim: Oh Deus de misericórdia, em nome de São José Sertanejo e Maria de
Entre Nós, tende compaixão do homem, do bicho, do chão sofrido, da vida que
queima, que sente fome e sede, que tanto espera de Ti um simples gesto em forma
de pingo d’água. Fazei, pois, que, de pingo a pingo, o sertão renasça para a
glória maior de seus filhos, estes devotos e penitentes pelos caminhos de tanta
e toda fé...
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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