Rangel Alves da Costa*
É a porta da cozinha a primeira que é aberta
ao amanhecer. Assim que o galo canta e a manhã já se ilumina, eis que a porta
se abre para o começo de tudo. E ali no quintal é onde tudo começa, pois nele o
primeiro diálogo com o mundo, a vida, a existência. E também no quintal a
árvore frutífera, o cercadinho com plantas medicinais, o poleiro das galinhas,
o varal, a lavanderia, o pilão, os troncos de pau servindo de tamborete. Também
o fogo de chão e a lenha protegida num quintal. As manhãs frientas são logo
aquecidas pelo fogo aceso para o café. Depois de recolher os ovos, também será
no fogão que eles serão misturados a toucinho de porco. O cuscuz é sempre
preparado antes, de modo que o dono da casa não saia de barriga vazia para o
ofício do dia. E a manhã seguindo com os mesmos procedimentos no quintal:
molhar planta, lavar roupa, varrer pelos arredores, levantar o derrubado pela
ventania, pequenos afazeres do dia a dia. A galinha cisca de canto a outro, os
pássaros chegam para mordiscar goiaba madura, uma velha canção é entoada.
Assim, primeiro sempre o quintal e depois o restante da casa. E tão doloroso é
abrir uma porta de cozinha e nada encontrar que sequer seja parecido com
quintal, apenas um muro diante do olhar.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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