Rangel Alves da Costa*
A criança precisa dormir, mas gente grande
também. A bezerrinha precisa adormecer, mas a montanha também. O riachinho vai
dormir, mas o oceano também. Tudo tem dormir, adormecer, cochilar, fechar os
olhos para o repouso interior, porém como fazer se o sono não chega? Então nada
resta a fazer senão cantar a cantiga de acalanto, a canção de ninar. Acalantar
significa suavizar, confortar, sossegar, amansar, chamar o sono para o
adormecimento. Entoa-se, então, assim: Nana nenê que a Cuca vem pegar, papai
foi na roça, mamãe foi trabalhar. Ou ainda: Boi, boi, boi da cara preta, pega esse
menino que tem medo de careta. Ou ainda, para adormecer coisa grande: Feche os
olhos e finja dormir, pois lá vem o homem, pois lá vem o homem, e quando vem o
homem é melhor fugir daqui. E a Velha Zozó, embalando filho dos outros desde os
tempos da escravidão, começava a ninar e adormecia antes mesmo da criança. E de
vez em quando uma cantava em direção ao velho semblante: Dorme e sonha minha
flor, tão antigo é teu jardim, mas perfumado de amor...
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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