Rangel Alves da Costa*
O calango é um dos bichos mais resistentes do
mundo, não há como duvidar. Quando nascido na ambientação sertaneja, onde o
chão abrasado e o fogaréu de mil sóis descem famintos sobre a terra e seus
seres, então é que se mostra mesmo a resistência do pequeno lagarto matuto.
Quando a seca tudo devorou, quando não há mais sombra, loca de pedra escondida
ou barreiro de molhação, o bicho ainda assim é encontrado, num alvoroço danado,
de canto a outro. Em meio à devastação, às pedras pontudas e aos espinhos
cortantes, então ele surge correndo, veloz, olhando de lado a lado, buscando o melhor
caminho para fugir do braseiro. Sobre na pedra e fica balançando a cabeça, num
balançar sem parar. Dizem que seus olhos tanto avistam o que está à frente como
o que está atrás, por isso mesmo a contínua observação do que acontece pelos
arredores. O medo maior é uma pedra jogada por um moleque caçador, uma arapuca
armada debaixo da pedra grande, qualquer coisa que lhe aprisione e passe a
servir de comida para quem já não tem sequer perna de preá. Mas tão forte e
resistente é que some em correria quando seu rabo é ferido. O rabo fica pra
trás e ele some em correria. O rabo, como se tivesse vida própria, vai
novamente crescendo enquanto ele sobre e desce da pedra grande, em constante
vigília, esperando dias melhores em meio ao sofrimento. Assim é o calango,
assim um pedaço do imenso sertão.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário