SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Palavra Solta: a desinocência


Rangel Alves da Costa*


A inocência somente em quem ainda não atina para a realidade da vida, no restante é tudo desinocência. Em muitos casos, sequer se presume a inocência, principalmente ante o fato de saber os limites do erro e do acerto. Assim acontece no perigo de amar demais, de se apaixonar, de se entregar de corpo e alma. Mais tarde não se pode alegar que sequer imaginava que poderia ser judiado, abandonado, deixado ao relento da solidão. Dizem até que a inocência acaba o mundo, e acredito. Comprovado está o perigo da inocência, pois em tudo a desinocência. E acabou o mundo porque jogou uma pedrinha na água, de forma supostamente inocente. Mas redundou num erro fatal. Ao cair, a pedrinha esbarrou na água, que se agitou e fez crescer bordas que foram avançando como pequenas ondas. Tais ondas recuando cada vez mais fortes, mais agigantadas, e de repente os mares e oceanos do mundo numa onda só, e avançando em direção às costas de todo lugar. Então as águas engoliram cidades, pessoas, paisagens e tudo o que existisse sobre a terra. Só continuou vivo aquele que arremessou a pedrinha. Por quê? Porque, já na desinocência, se lançou às águas após atirar a pedra. Tentava evitar que a pedra alcançasse o destino. Então, quando as águas se abriram, ele ali continuou esperando sua volta. E ainda espera o retorno das águas.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: