Rangel Alves da Costa*
A inocência somente em quem ainda não atina
para a realidade da vida, no restante é tudo desinocência. Em muitos casos,
sequer se presume a inocência, principalmente ante o fato de saber os limites
do erro e do acerto. Assim acontece no perigo de amar demais, de se apaixonar,
de se entregar de corpo e alma. Mais tarde não se pode alegar que sequer imaginava
que poderia ser judiado, abandonado, deixado ao relento da solidão. Dizem até
que a inocência acaba o mundo, e acredito. Comprovado está o perigo da
inocência, pois em tudo a desinocência. E acabou o mundo porque jogou uma
pedrinha na água, de forma supostamente inocente. Mas redundou num erro fatal.
Ao cair, a pedrinha esbarrou na água, que se agitou e fez crescer bordas que
foram avançando como pequenas ondas. Tais ondas recuando cada vez mais fortes,
mais agigantadas, e de repente os mares e oceanos do mundo numa onda só, e
avançando em direção às costas de todo lugar. Então as águas engoliram cidades,
pessoas, paisagens e tudo o que existisse sobre a terra. Só continuou vivo
aquele que arremessou a pedrinha. Por quê? Porque, já na desinocência, se lançou
às águas após atirar a pedra. Tentava evitar que a pedra alcançasse o destino.
Então, quando as águas se abriram, ele ali continuou esperando sua volta. E
ainda espera o retorno das águas.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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