SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 27 de fevereiro de 2016

SOU DE DEUS


Rangel Alves da Costa*


Sou de Deus. Todo, completo, inteiro, integralmente de Deus. De suas mãos nasci pelas suas mãos serei chamado. E o que me pertence é apenas o corpo agraciado pela presença terrena.
Sou de Deus. Eis que sou seu filho. Ao meu pai devo respeito, obediência e veneração, ainda que muito ainda tenha a fazer para que meus atos e minhas ações possam sempre alegrar seus olhos.
Sou de Deus. E outro dono nenhum direito jamais terá sobre mim. Não serei escravizado por ídolos nem ilusões, não serei conduzido por falsos profetas, pois é na casa de meu pai que se revela a mais segura das moradias.
Sou de Deus. Nem a espada desconhecida nem a tentação do deserto diminuem minha certeza e meu encanto de ser de Deus. Abomino deuses que chegam em alarde e me regozijo no silêncio da casa do pai.
Sou de Deus. Minha família terrena colheu no barro da fé e moldado eu fui como um filho de Deus. Argila santa nos meus olhos, na minha boca, em minhas mãos, inquebrantável até que o pai sopre meus grãos e ao pó retorne à sua moradia.
Sou de Deus. Sou do Deus dos humildes, da simplicidade, da modéstia, da prudência, do equilíbrio. Nada além do que foi pregado, do que foi mostrado como caminho humano, pois não bate à porta do pai aquele que não soube seguir seus ensinamentos.
Sou de Deus. Muito mais que um Deus retrato, figura, imagem e símbolo, sou de um Deus luz, força, piedade, acolhimento e retribuição. O Deus da onisciência, da onipresença, da onipotência, tão tudo e acima de tudo, mas que placidamente possui altar no meu coração.
Sou de Deus. E quem não for de Deus que não pergunte a mim quem é este pai, onde mora, como pode ser alcançado. Jamais será filho aquele que não se reconhece como fruto de um pai. O filho que reconhece o pai também conhece a sua moradia.
Sou de Deus. E de um Deus de preenchimento e grandeza. Por isso que não sou alcançado pelo nada, pelo vazio, pelo caos. Por isso que os labirintos fogem de mim e as escuridões perversas do mundo se escondem ante minha luz.
Sou de Deus. E também sou do homem. Mas do homem que tenha a Deus, que também seja seu filho, e desta raiz a filiação que seja amigo verdadeiro, que seja fraterno e humano. Um humano de Deus, não apenas humano.
Sou de Deus. Meu pai me chama, conversa comigo, ouço sua voz, sinto sua presença. Há um canto de passarinho, há uma aragem refrescante, há uma fonte de água boa, há uma relva para o silêncio e a poesia. Em tudo a presença de Deus.
Sou de Deus. Caminho com Deus e ao seu lado vivo em toda caminhada. Subo no monte e avisto a grandeza da criação, sigo pela estrada e encontro as graças da criação, medito e me reconheço como fruto dessa criação.
Sou de Deus. Sou daquele Deus que está na fé sertaneja, na religiosidade do povo caboclo, na vela acesa que chameja aos pés do oratório, nos joelhos que se curvam para a oração, na eucaristia e no silêncio do templo cristão.
Sou de Deus. E nada seria se não fosse de Deus. E nada teria se não fosse de Deus. Que esperanças posso ter, que obras poderia realizar, que sonhos e realidades poderia concretizar sem um pai que construa por mim e me peça para preservar?
Sou de Deus. Mesmo na angústia, na agonia, no entristecimento, na dor, sou de Deus a sua presença. Um tempo houve de padecimento no deserto, de tentação e desencorajamento, mas nada vencido. E neste espelho o encorajamento para os desafios.
Sou de Deus. E que vá além de mim o eco sincero dessa minha fé. Uma fé ultrapassando vales e montanhas e ainda ecoando que sou de Deus.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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