Rangel Alves da
Costa*
Sou de
Deus. Todo, completo, inteiro, integralmente de Deus. De suas mãos nasci pelas
suas mãos serei chamado. E o que me pertence é apenas o corpo agraciado pela
presença terrena.
Sou de
Deus. Eis que sou seu filho. Ao meu pai devo respeito, obediência e veneração,
ainda que muito ainda tenha a fazer para que meus atos e minhas ações possam
sempre alegrar seus olhos.
Sou de
Deus. E outro dono nenhum direito jamais terá sobre mim. Não serei escravizado
por ídolos nem ilusões, não serei conduzido por falsos profetas, pois é na casa
de meu pai que se revela a mais segura das moradias.
Sou de
Deus. Nem a espada desconhecida nem a tentação do deserto diminuem minha
certeza e meu encanto de ser de Deus. Abomino deuses que chegam em alarde e me
regozijo no silêncio da casa do pai.
Sou de
Deus. Minha família terrena colheu no barro da fé e moldado eu fui como um
filho de Deus. Argila santa nos meus olhos, na minha boca, em minhas mãos,
inquebrantável até que o pai sopre meus grãos e ao pó retorne à sua moradia.
Sou de
Deus. Sou do Deus dos humildes, da simplicidade, da modéstia, da prudência, do
equilíbrio. Nada além do que foi pregado, do que foi mostrado como caminho
humano, pois não bate à porta do pai aquele que não soube seguir seus
ensinamentos.
Sou de
Deus. Muito mais que um Deus retrato, figura, imagem e símbolo, sou de um Deus
luz, força, piedade, acolhimento e retribuição. O Deus da onisciência, da
onipresença, da onipotência, tão tudo e acima de tudo, mas que placidamente
possui altar no meu coração.
Sou de
Deus. E quem não for de Deus que não pergunte a mim quem é este pai, onde mora,
como pode ser alcançado. Jamais será filho aquele que não se reconhece como
fruto de um pai. O filho que reconhece o pai também conhece a sua moradia.
Sou de
Deus. E de um Deus de preenchimento e grandeza. Por isso que não sou alcançado
pelo nada, pelo vazio, pelo caos. Por isso que os labirintos fogem de mim e as
escuridões perversas do mundo se escondem ante minha luz.
Sou de
Deus. E também sou do homem. Mas do homem que tenha a Deus, que também seja seu
filho, e desta raiz a filiação que seja amigo verdadeiro, que seja fraterno e
humano. Um humano de Deus, não apenas humano.
Sou de
Deus. Meu pai me chama, conversa comigo, ouço sua voz, sinto sua presença. Há
um canto de passarinho, há uma aragem refrescante, há uma fonte de água boa, há
uma relva para o silêncio e a poesia. Em tudo a presença de Deus.
Sou de
Deus. Caminho com Deus e ao seu lado vivo em toda caminhada. Subo no monte e
avisto a grandeza da criação, sigo pela estrada e encontro as graças da
criação, medito e me reconheço como fruto dessa criação.
Sou de
Deus. Sou daquele Deus que está na fé sertaneja, na religiosidade do povo
caboclo, na vela acesa que chameja aos pés do oratório, nos joelhos que se
curvam para a oração, na eucaristia e no silêncio do templo cristão.
Sou de
Deus. E nada seria se não fosse de Deus. E nada teria se não fosse de Deus. Que
esperanças posso ter, que obras poderia realizar, que sonhos e realidades poderia
concretizar sem um pai que construa por mim e me peça para preservar?
Sou de
Deus. Mesmo na angústia, na agonia, no entristecimento, na dor, sou de Deus a
sua presença. Um tempo houve de padecimento no deserto, de tentação e
desencorajamento, mas nada vencido. E neste espelho o encorajamento para os
desafios.
Sou de
Deus. E que vá além de mim o eco sincero dessa minha fé. Uma fé ultrapassando
vales e montanhas e ainda ecoando que sou de Deus.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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