Rangel Alves da Costa*
Não há instante de maior tormento que aquele
antecedendo a cobrança de um pênalti. A trave, o goleiro, a marca na cal, a
bola e o jogador. Dois minutos, ou menos. Contudo, toda a parte aflitiva se
inicia mesmo quando o jogador coloca a bola no local da cobrança e recua. Ao
recuar dois ou três metros e até que ouça o apito do árbitro, eis o verdadeiro
martírio. Os olhos miram a bola, miram o gol, sentem o goleiro, se mostram
atormentados. É neste breve espaço de tempo que o mundo revirava, que tudo
acontece, que os mistérios da mente iluminam ou assombram. O que pensa o
jogador esperando o árbitro apitar, o que vem à mente do jogador diante da bola
e do gol, o que envolve o jogador ante tamanha responsabilidade? Mesmo com
estádio cheio, nada mais que um silêncio profundo envolvendo o jogador. Não
ouve nada, não ouve seu nome sendo cantado ou vaiado, não ouve absolutamente
nada. Espera ouvir somente o apito. E também a mais profunda das solidões.
Sozinho porque se sente como num vazio, num distanciamento de tudo. Tudo
depende de si, de seus pés, de seu acerto, mas sequer assimila tão grande
responsabilidade. É apenas um ser que, às vezes, é simplesmente conduzido pelos
deuses da bola que, impulsionando o seu corpo e colocando seu pé no local exato
da bola, provocam o chute certeiro. E só retorna ao mundo depois da reação da
torcida. Seja gol ou não.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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