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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Palavra Solta - das eternidades


Rangel Alves da Costa*


As árvores morrem, as pedras morrem, as pessoas morrem. E mais ainda, pois as flores morrem, as auroras morrem, os retratos morrem, as esperanças também morrem com a pessoa. Tudo morre, tudo seu nascer, seu viver e seu morrer. Daí que a morte em si não deveria causar tamanho sofrimento, tamanha dor, tão grande melancolia. Nada mais esperado que a morte, nada mais certo que a sua chegada, nada mais inevitável que a sua experiência única. Mas eis o mistério: as pessoas entristecem quando as flores morrem não pelo fato da morte das flores, mas pelo que elas representavam perante o olhar, o sentimento, o coração. Assim também com as pessoas, com as folhas de outono, com o pranteado do alvorecer. O sofrimento é causado pelo amor sentido, a dor é causada pela ausência, a melancolia é causada pelo sentimento de impossível presença, o luto é causado pela força da presença que se quer, piedosamente, impor. Assim, mesmo a certeza desse inevitável acontecimento, mesmo que não se possa fugir do dia do adeus, ainda assim se chora pela árvore, pela pedra, pela folha, pela pessoa. Mas não pela morte, mas pela perda, pela ausência, prela distância. E também porque tanto amou e tanto quis que se imagina impossível viver sem sua presença. Até que o tempo vá apagando os retratos e fotografias. Ou apenas envelhecer a moldura eterna.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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