Rangel Alves da Costa*
As árvores morrem, as pedras morrem, as
pessoas morrem. E mais ainda, pois as flores morrem, as auroras morrem, os
retratos morrem, as esperanças também morrem com a pessoa. Tudo morre, tudo seu
nascer, seu viver e seu morrer. Daí que a morte em si não deveria causar
tamanho sofrimento, tamanha dor, tão grande melancolia. Nada mais esperado que
a morte, nada mais certo que a sua chegada, nada mais inevitável que a sua
experiência única. Mas eis o mistério: as pessoas entristecem quando as flores
morrem não pelo fato da morte das flores, mas pelo que elas representavam
perante o olhar, o sentimento, o coração. Assim também com as pessoas, com as
folhas de outono, com o pranteado do alvorecer. O sofrimento é causado pelo
amor sentido, a dor é causada pela ausência, a melancolia é causada pelo
sentimento de impossível presença, o luto é causado pela força da presença que
se quer, piedosamente, impor. Assim, mesmo a certeza desse inevitável acontecimento,
mesmo que não se possa fugir do dia do adeus, ainda assim se chora pela árvore,
pela pedra, pela folha, pela pessoa. Mas não pela morte, mas pela perda, pela
ausência, prela distância. E também porque tanto amou e tanto quis que se
imagina impossível viver sem sua presença. Até que o tempo vá apagando os
retratos e fotografias. Ou apenas envelhecer a moldura eterna.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário