*Rangel Alves da Costa
Nada mais medonho que no meio da noite,
avançando pela madrugada, e até o alvorecer, ouvir gato gemendo no telhado. Há
miado que até soa como intragável canção, mas o gemido é mesmo insuportável. Um
lamento funesto, pesaroso, que se prolonga compassadamente e que mais parece um
velório no telhado. E tão alto, mas tão alto, que mais parece no telhado acima
do quarto, bem ao lado, e a pessoa tendo de suportar o lamento angustiante e
mesmo amedrontador. Muita gente tem medo mesmo, não consegue dormir de jeito
nenhum. Vira-se e revira-se na cama, tenta tapar os ouvidos, se enche de panos
dos pés à cabeça, mas não há jeito, pois o gemido vai ecoando cada vez mais
alto. Mas o que provoca uma ação tão sinistra assim da gataria, e logo se
prolongando em momentos de repouso silencioso? Dizem que os gatos em
sofrimentos, em prantos saudosos, em relembranças angustiantes. Dizem que os
gatos velando ausências incompreensíveis aos seres humanos. Mas o pior: dizem
que os gatos em terríveis presságios. Creio apenas num não ter o que fazer da
gataria. Numa hora boa para o amor, para o acasalamento noturno e sobre a
claridade da lua, mas preferindo gemer como se chorando estivesse. E não
adianta procurar para fazê-lo parar, pois nunca é avistado. Apenas o seu
gemido. Terrível, angustiante, doloroso demais de ser ouvido por cima dos
telhados molhados de lua e estrelas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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