SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O QUE ENCONTRO POR AÍ (Crônica)


                                     Rangel Alves da Costa*


Sei que é difícil de dizer e de acreditar, mas tenho que relatar o que ando encontrando por aí. Estranhezas, absurdos ou coisas do outro mundo, não sei. Só sei que a cada caminhada que dou sempre me deparo com o que eu mesmo diria ser mentira se alguém me contasse.
Hoje mesmo, 05/08/2012, fui ao centro da cidade e ao parar numa lanchonete para tomar um cafezinho eis que encontro dois extraterrestres, alienígenas ou como queiram nomear os seres de outros planetas. Isso mesmo. E estavam lá tomando um suco.
Iguais a todos terráqueos, vestindo roupas normais, com as mesmas feições dos humanos, realmente não era nada fácil de serem percebidos. Contudo, conclui que só poderiam ser extraterrestres quando reclamavam baixinho que já estavam por aqui há mais de dois meses e não haviam encontrado nenhuma pessoa realmente honesta para abduzir.
Quando ouvi o termo abdução liguei uma coisa com a outra, e só depois me dei conta que fingiam tomar o suco com o canudinho mas utilizavam o dedo indicador para tal. Saí de fininho, sem olhar pra trás, até mesmo porque me acho honesto demais. Mas estava comprovado que não, pois eles nem olharam em minha direção.
Não andei muito e encontrei um anjo pedindo informação. Anjo sim, aquele ser espiritual que serve de ponte entre o humano e o divino, que é mensageiro de Deus e que serve de guarda para os seres que nele acreditam. Não sei se serafim, querubim, arcanjo ou anjo de guarda procurando seu protegido, mas não tenho dúvida de que era um ser angelical lá de cima.
Estava de paletó informal, tipo blazer, mas ainda assim uma pontinha de asa pôde ser percebida quando levantou uma mão para o alto. Contudo, o mais estranho era a informação que procurava obter bem ali no centro da cidade. Eis que o ser angelical queria simplesmente saber se por ali havia alguém que vivia transgredindo na vida e precisava de palavras de luz que pudessem dar outro norte aos seus caminhos.
Respondi logo que todo mundo, que indistintamente todos transgrediam na vida. Quanto a isso ele poderia encontrar aos montes, mas o mesmo certamente não aconteceria com relação ao outro aspecto. Por mais que implorasse querendo iluminá-los pelos melhores caminhos, apenas um ou outro fingiria que estava dando ouvidos. Mas depois da primeira esquina tudo já estaria desandado novamente. E era assim com todo mundo. Não sabia que anjo chorava, mas vi sua lágrima depois de me ouvir. Pedi perdão, desculpa, mas a verdade é que não menti.
Essas coisas estranhas sempre acontecem comigo. Não tenho nada diferente dos outros, mas imagino que lhes falta o olho e a necessidade de acreditar em tudo. Com tal crença, não descarto a possibilidade de nada, jamais afasto a probabilidade de o inesperado acontecer, o acaso causar surpresas, o inusitado de repente acontecer. Ora, se na vida não falta acontecer mais nada, então certamente que o alheio, o bizarro ou curioso acontecerá.
Verdade é que nas minhas andanças encontro de tudo. Já vi mortinho da silva caminhando normalmente pela rua, acenando para os outros, cumprimentando-os, indo sentar no banco da praça e depois seguir até as pedras do cais. E foi nesse entardecer que percebi que os mortos também se entristecem, sentem saudades, choram. E vi puxando do bolso uma fotografia de gente viva, beijando-a e depois seguindo em incerta direção. Será que foi convidá-la a seguir com ele?
Vi o louco mais normal que o próprio ajuizado; vi o de perfeita faculdade mental continuamente praticando loucuras; vi a criancinha tomando a pipa da mão do adulto e dando-lhe palmadas na bunda; vi a madame enfeitada de dourados e braceletes roubar o pão com mortadela da mão da esmoler e depois sair correndo; vi o embriagado de tanto tomar leite no balcão; vi o padre namorando; vi o olho dos animais nos olhos do povo. E como o povo estava mais humano assim.
E também encontrei com Deus. Na verdade, Deus está em tudo e em todo lugar que a pessoa só não o encontra se não quiser. Às vezes saio com ele já dentro de mim, no meu coração; outras vezes o encontro onde quero encontrá-lo. O mais interessante que acho é que ele é o mesmo ainda estando dentro ou diante de todos. Mas nem todos querem perceber a sua presença.
Só quando a vida lhes mostra a dor e o sofrimento.

  

Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: