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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 6


                                                        Rangel Alves da Costa*


“Enfim, um momento de quietude e silêncio...”.
“Que bela palavra...”.
“Quietude ou silêncio?”.
“Quietude, sim. Quietude...”.
“Realmente não é usual e muita gente nem sabe o seu significado”.
“Certa feita Guimarães Rosa citou quietude num de seus escritos...”.
“Você lembra qual a frase e o livro?”.
“Guimarães Rosa ninguém pode esquecer. Está lá escrito em “Estas estórias”: "Andei-me à quente quietude...”.
“Certamente queria dizer da tranquilidade encontrada em meio ao calor do lugar...”.
“Sim. A tranquilidade enfim naqueles sertões gerais tão bem descritos por ele”.
“Pelo significado de quietude, bem poderia também ser um conforto encontrado, o quieto instante, a calma, a paz, e também o silêncio...”.
“Outra palavra belíssima: silêncio!”.
“Sim. Silêncio e a noite calada, silêncio e os ruídos escondidos...”.
“Silêncio e a voz calada do tempo, da lembrança, da recordação; silêncio e a momentânea ausência; silêncio e a expectativa; silêncio e a interrogação...”.
“E também o silêncio sepulcral, o silêncio da morte, da eternidade, da dor...”.
“A dor que mais dói é a silenciosa dor...”.
“Silenciosamente lancinante...”.
“Mas não conheço o silêncio!”.
“Por que diz isso?”.
“Concebo o silêncio como algo totalmente inexistente...”.
“Claro, nunca haverá o silêncio total, pois em tudo ruído, sopro, presença audível, mas...”.
“Mas falo de outro silêncio”.
“Qual?”
“Do silêncio inexistente na nossa mente!”.
“Psicologia ou filosofia?”.
“Realidade. Só isso. A voz, os gritos, os bramidos, os alaridos da realidade. Mas também os quase silêncio, os murmúrios, sussurros, cicios...”.
“Então seria o silêncio exterior, apenas o véu encobrindo a voz interior?”.
“Certamente que sim. Impossível a gente não estar ouvindo vozes interiormente, na mente, no pensamento. Até em sonhos nos chegam essas vozes”.
“E muitas vezes aos gritos...”.
“É incrível que aconteça assim, mas quando imaginamos a quietude e o silêncio, eis que começamos a pensar num monte de coisas...”.
“Pois instante de calma propício a isso...”.
“E pensar na igreja e ouvir o sino dobrando a Ave-Maria...”.
“Pensar na natureza e ouvir as folhagens murmurantes, farfalhantes...”.
“Pensar nos nossos entes queridos e lembrar, e até ouvir a voz, das muitas palavras um dia ditas...”.
“Pensar na calmaria das águas azuis e logo ouvir o canto da imaginária sereia...”.
“Pensar viajando nas nuvens e ouvir o coro dos anjos...”.
“Pensar no fogo e ouvir a madeira crepitando...”.
“Pensar na poesia e ouvir Romeu declamando para sua Julieta...”.
“Pensar na morte e ouvir o choro, o grito, o berro...”.
“Pensar em qualquer coisa e o seu significado audível em nós”.
“Até pensar no silêncio total nos chega a ideia da campainha tocando, do telefone chamando, do relógio marcando a passagem do tempo...”.
“E a nossa quietude e silêncio foram quebrados por tantas palavras...”.
“Será que faz barulho beijar ou o silêncio toma o corpo inteiro?”.
“Mas ninguém poderá calar a voz das consequências do beijo...”.
“Será?”.
“Já ouço um pedido...”.


  
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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