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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

POESIA D’ANGÚSTIA (Crônica)


                                  Rangel Alves da Costa*


Sei que a angústia é sensação psicológica que fere, maltrata, atormenta; que ninguém é merecedor ter somente folhas de outono no seu jardim, mas fique assim não. De repente a angústia pode se transformar até num refrigério da alma.
Afaste logo de si o doloroso conceito de angústia. Procure entendê-la apenas por preocupação, vez que passo importante para afastá-la dos seus dias e noites. Conhecendo os fenômenos, geralmente nos preparamos melhor quando ousadamente tentam bater à porta.
De antemão, saiba que angústia não é enfermidade mental degenerativa, mas uma inversão nos sentidos, algo como uma impressão negativa que vai tomando a mente e que, se não for combatida, acabará se tornando uma realidade opressora.
A psiquiatria afirma que ela é doença e que precisa ser tratada. Contudo, tal afirmativa se volta mais para alertar sobre os sintomas que afetam a mente, e considerando-se logicamente que a angústia está intimamente a fatores psicológicos do indivíduo. Mas quando ela se enraíza de tal forma que o indivíduo em tudo vê o pior, então passa a requerer tratamento imediato.
Mas insistimos em situá-la apenas no campo da percepção, da impressão, da sensação. E como sensação, a angústia vai provocando uma modificação na consciência; vai interferindo nas atitudes, no humor e na disposição; vai condicionando mentalmente a pessoa de tal modo que de repente transformará a paisagem da tarde num cenário de dor e sofrimento.
Conceitualmente, para que jamais estranhe essa inesperada e refutável visita, a angústia é a condição mental ou emocional produzindo impressões tais como sensação de que o pior está ou vai acontecer; relembranças de fatos passados para, negativamente, justificar o presente; insegurança desmedida, peito sufocado, tristeza; sentimento de medo e um pressentimento terrível de que tudo caminha para confirmar o pior.
Mas sei bem o quanto as pessoas abominam o significado de termos como aflição, agonia, dor, tristeza, medo, sufocamento, desespero, pressentimento, carência, opressão, sofrimento, insegurança, ressentimento, negativismo. E todos esses termos, de forma ou de outra, estão relacionados à angústia. O que fazer então, se o bicho não é feio mas assusta?
Saiba que igualmente a noite teme a manhã, o louco teme a lua, a mentira teme a verdade, a ingratidão teme o perdão, o incrédulo teme a fé, a angústia teme a consciência e o encorajamento da própria pessoa que quer atormentar. E por medo que a força da pessoa, seu desejo de realização e sua persistência para não se deixar conquistar, sejam muito mais fortes que as suas tentações.
Não há angústia que prospere na pessoa resoluta, que vive desbravando os caminhos da felicidade; que cuida dos acontecimentos ruins da vida como lições, jamais como ameaças nas pretensões de conquistas e prosperidades; que acorda para a janela ensolarada e não para se enfurnar dolorosa e lacrimejantemente embaixo dos lençóis.
A angústia odeia a amizade, o companheirismo, o relacionamento, o amor, a palavra boa e positiva. E odeia porque sabe que a pessoa ao sair de sua solidão amedrontadora, do seu silêncio sufocante e temeroso, deixará atrás da porta a razão de ser da angústia: o espírito desprovido de ação e de reação. Para trás ficará o vazio que, de outro modo, seria preenchido por situações desesperadoras.
A angústia odeia o que de melhor e de mais belo há na vida. Por isso zombe da cara dela, leia em voz alta a poesia do encantamento da alma, aumente o som e deixe ecoar a melodia contagiante, dance a valsa da felicidade, retome sua infância e sopre bolinhas de sabão, corra pelos campos, abra bem a porta e as janelas e chame os passarinhos e a borboletas. Tudo diz do seu contentamento na vida, de sua prosperidade no mundo, e nada, absolutamente nada, haverá de impedir esse grito íntimo de prazer e alegria.
Ora, mas quem é você angústia, senão a medrosa sombra que se esconde atrás da luz? Saiba que afastei as cortinas, espantei as aranhas que faziam teia nos porões da alma, coloquei um sol bem no centro de minha vida. E agora, angústia, aonde irá se esconder?

  

Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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