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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 27


                                            Rangel Alves da Costa*


“Os bichos um dia haverão de ser gente...”.
“Gente bicho já há demais...”.
“Não sei como ficaria o homem...”.
“Apenas como bicho...”.
“Impossível...”.
“Por quê?”.
“Sendo bicho talvez tentasse acertar e aí seria um desastre ainda maior”.
“Acha que a racionalidade humana é de pouca serventia?”.
“Como dizem, contra fatos não há argumentos...”.
“E por que seria um desastre ainda maior?”.
“Mesmo com o uso da razão que tem, o ser humano insiste em ir pelo caminho inverso...”.
“E sendo bicho, agindo irracionalmente, poderia fazer pior...”.
“O problema é que está demonstrado que a irracionalidade dá melhores frutos que a dita razão humana...”.
“Tornando-se irracional, será que o homem não teria também desses bons frutos?”.
“Creio que não, pois o problema do homem parece não ser problema em ter, ou não, a razão como instrumento de ação, mas...”.
“Mas um elemento destrutivo, negativo arraigado no próprio ser...”.
“Não há que pensar diferente não. Só pode ser assim mesmo...”.
“Então é um mal da espécie”.
“Vejamos. O bicho, o dito irracional, não nega seus sentimentos...”.
“O homem joga, falseia...”.
“O animal não é vingativo se não é incomodado...”.
“O homem procurar inimigos para justificar vinganças...”.
“O animal geralmente ataca para se defender...”.
“O homem não quer nem saber, vai logo partindo com unhas e dentes...”.
“O animal colhe, acolhe, recolhe os seus contra os inimigos e as ameaças”.
“O homem abre a porta e entrega à sorte os seus...”.
“O bicho é carinhoso, afável, amável...”.
“E o homem é destratável...”.
“O bicho tem compromisso com sua toca, seu ninho, seu esconderijo...”.
“Ao homem tanto faz deixar a parede caindo...”.
“O bicho jamais abandona os seus antes que estes já estejam prontos para enfrentar a natureza sozinhos”.
“O dito irracional primeiro pensa no seu, na fragilidade da cria, para depois pensar em si mesmo...”.
“E o homem no seu egoísmo...”.
“O bicho não nega a ninguém sua condição de bicho...”.
“Enquanto o homem traveste-se sempre do que não é...”.
“O bicho tem hora para sair e hora pra voltar...”.
“E o homem ao deus-dará...”.
“O bicho quer ser amigo do homem...”.
“E o homem maltratá-lo, encarcerá-lo, simplesmente usá-lo...”.
“O bicho vive em harmonia com o seu meio”.
“Como o homem trata o ambiente onde vive?”.
“O bicho sofre com a destruição da natureza, chora pela devastação do seu ambiente...”.
“Enquanto o homem ajuda a degradar...”.
“O bicho tem humildade, vai catando folhagem, recolhendo pedaços, procurando qualquer coisa para fazer seu ninho, sua moradia...”.
“E o homem só faz isso como se fosse punição...”
“O bicho canta, voa, solta sua cor e o seu brilho, dança na mataria, corre na natureza, festeja sua liberdade...”.
“E o homem no seu silêncio revoltado com tudo e todos”.
“Depois destas reflexões, e pensando bem, não queria que o bicho se tornasse ser racional não...”.
“Nem o homem bicho?”.
“O homem sim, deveria aprender com a irracionalidade o valor da razão...”.
“E o bicho?”.
“Deveria tomar o lugar do homem para mostrar que a irracionalidade não tem o poder tão grande de subverter a ordem das coisas em seu próprio detrimento”.

  
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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